segunda-feira, 27 de junho de 2011

Conselho de um velho apaixonado


Carlos Drummond de Andrade

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer 
seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa
mais importante da sua vida. 

Se os olhares se cruzarem e, neste momento, 
houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está
esperando desde o dia em que nasceu. 

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo 
for apaixonante, e os olhos se encherem
d'água neste momento, perceba:
existe algo mágico entre vocês. 

Se o 1º e o último pensamento do seu dia
for essa pessoa, se a vontade de ficar
juntos chegar a apertar o coração, agradeça: 
Algo do céu te mandou 
um presente divino : O AMOR. 

Se um dia tiverem que pedir perdão um
ao outro por algum motivo e, em troca, 
receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos
e os gestos valerem mais que mil palavras,
entregue-se: vocês foram feitos um pro outro. 

Se por algum motivo você estiver triste,
se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa
sofrer o seu sofrimento, chorar as suas 
lágrimas e enxugá-las com ternura, que
coisa maravilhosa: você poderá contar 
com ela em qualquer momento de sua vida. 

Se você conseguir, em pensamento, sentir 
o cheiro da pessoa como
se ela estivesse ali do seu lado... 

Se você achar a pessoa maravilhosamente linda,
mesmo ela estando de pijamas velhos, 
chinelos de dedo e cabelos emaranhados... 


Se você não consegue trabalhar direito o dia todo,
ansioso pelo encontro que está marcado para a noite... 

Se você não consegue imaginar, de maneira
nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado... 

Se você tiver a certeza que vai ver a outra 
envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção
que vai continuar sendo louco por ela... 

Se você preferir fechar os olhos, antes de ver
a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. 

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes 
na vida poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. 

Às vezes encontram e, por não prestarem atenção
nesses sinais, deixam o amor passar, 
sem deixá-lo acontecer verdadeiramente. 

É o livre-arbítrio. Por isso, preste atenção nos sinais.
Não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem 
cego para a melhor coisa da vida: o AMOR !

domingo, 26 de junho de 2011

O Leitor




Feriadão Bom  na Quinta-feira passei 8h do meu dia envolvido com “O Leitor” li o livro e depois assistir o filme com minha namorada. Me envolvi tanto com o livro e depois com  o longa, sensacional.
 Michael estava voltando para casa de trem numa tarde como outra qualquer. Doente, ele foi encontrado passando mal no meio da rua por, Hanna que pára, lhe presta auxílio e depois o acompanha até em casa. O médico recomenda que Michael fique de cama por algumas semanas para se recuperar.
Mais de um mês depois, Michael resolve levar flores para aquela que o ajudou, como forma de agradecimento. É nessa pequena visita que ele começa a realmente reparar em Hanna - e a desejá-la. Ele foge quando percebe que ela o viu espiando enquanto ela se trocava, mas retorna no dia seguinte para se desculpar. Para sua surpresa, Hanna não o repreende. Pelo contrário, se aproxima e dorme com ele. Os dois passam a viver uma história intensa, marcada a dúvidas, promessas e livros que Hanna repetidamente pede que Michael leia para ela. Porém, quando fica claro que há um abismo crescente entre a realidade de cada um, Hanna resolve abandoná-lo e sumir para sempre de sua vida.
Anos se passam. Michael termina a escola e vai para a faculdade. Começa a cursar Direito, e nunca mais teve contato com Hanna, sumida na vida. O destino os reúne, contudo, quando, numa visita ao tribunal, Michael assiste ao julgamento de antigas policiais nazistas- entre elas Hanna. Quando o cerco se fecha para ela, Michael é o único que sabe da verdade que poderá resultar na sua libertação. Como era analfabeta, Hanna sempre escolhia as mais novas para que lessem os romances para ela, antes que as encaminhassem para a morte. Uma belíssima metáfora, para uma personagem que fugiu do amor adolescente e acabou metaforicamente tentando matar esse amor, em cada adolescente que encaminhava para a morte. Acusada de ser uma das funcionárias de Hitler, portanto culpada pela morte de cerca de 300 mulheres, queimadas.
Os valores humanos são postos em cheque quando vemos que o garoto recusa-se a defender Hanna, que acusada pelas “amigas”, assume o crime  sozinha.

O filme me perturbou. Winslet está impagável como Hanna e sua interpretação lhe valeu o Oscar e o Globo de Ouro pelo papel. Hanna é daquelas mulheres condicionadas pelo sistema, que arrebanha suas ovelhas e as fazem pagar caro, pelos erros alheio.
A colaboração voluntária desta mulher nos campos de concentração é o que está em julgamento. Quantos não acataram as ordens de Hitler, sem ter a noção de crueldade ao qual estavam se submetendo? Até que ponto os carrascos do holocausto poderiam ter impedido o genocídio?
Essa “responsabilidade moral” é o que provoca – também – o julgamento do expectador. Culpar Hanna ou não? Eis uma das questões – pertinentes – do filme.
Como era analfabeta, Hanna sempre escolhia as mais novas para que lessem os romances para ela, antes que as encaminhassem para a morte. Uma belíssima metáfora, para uma personagem que fugiu do amor adolescente e acabou metaforicamente tentando matar esse amor, em cada adolescente que encaminhava para a morte.
Hanna sobreviveu à própria ignorância, aos anos  enclausurada, ao rótulo de assassina. Só não sobreviveu a perda do amor, esse sim o grande vilão de sua história.


sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Som do Coração



O Som do Coração 

(August Rush )

Ontem passei o dia todo em casa e fiquei assistindo filmes, lendo e namorando. Assistimos O Som do Coração no qual me tocou de verdade, por tantos encantos.

 "a música, é um lembrete que Deus nos deixou de que existe algo além" ou essa outra maravilhosa: "a música, está em tudo ao nosso redor. Tudo o que temos que fazer é ouvir".

 Tudo começa com o amor de um cantor de rock (Jonathan Rhyes Meyers) e uma violoncelista (Keri Russell) se apaixonam por uma noite. E levado por vários fatores, não acabam juntos. Dessa relação nasce Evan, que foi deixado no orfanato pelo avô materno. Evan nasce com o dom da música e acredita que fazendo som, um dia possa encontrar seus pais. Sempre seguindo uma música invisível, o menino/musical foge do orfanato e parte para Nova York. Lá, um malandro das ruas, vivido por Robin Willians, dando uma de empresário, explora várias crianças abrigadas num teatro abandonado.
Muitas situações incriveis ainda acontecerão.
Mas, o filme mexendo com as nossas emoções, nos relembra do nosso lado humano e da nossa sensibilidade angelical.
 O filme conta como a música pode muito na vida das pessoas, inclusive promover reencontros. É um filme simples, mas com temática muito bonita.
 Eu recomendo!



domingo, 19 de junho de 2011

Eu Sou O Número Quatro

Eu comecei a leitura desse livro com um pé atrás, afinal, ficção científica e alienígena não são meus temas preferidos de filmes e livros, mas como esse livro foi muito comentado, por meus alunos  resolvi encarar, li o livro e depois assistir ao filme. A narrativa é feita no presente, em primeira pessoa, sob o ponto de vista do John.


O livro conta a história de Quatro, o quarto de nove moradores de Lorien que foram enviados à Terra para salvar a própria pele e, no futuro, seu próprio planeta. Cada um dos lorienos veio com seu Cepân – uma espécie de guardião sem poderes – que tem como missão cuidar deles e ajudá-los a desenvolver seus poderes, conhecidos como legados.
Acompanhamos já nas primeiras páginas a morte do número três. Com isso o cerco se fecha e Quatro sabe que é o próximo, não tem escapatória. Pois é, uma forma de proteção para os nove é essa: eles só podem morrer em sua ordem de numeração.
Ah, claro… Por que vieram para a Terra? Lorien já foi um planeta parecido com o nosso, que chegou ao cúmulo da devastação e se recuperou lindamente. Mas existem outros planetas se destruindo por aí e nem todos eles conseguem se recuperar e, por isso, seus habitantes simplesmente saem invadindo o que podem. Esse é o caso dos Mogadorianos.
Quatro e Henri – seu Cepân – vivem fugindo de uma cidade para outra. Quando estão correndo o risco de serem descobertos pelos Mogadorianos (que vieram pra Terra destruir os lorienos que sobraram), arrumam tudo e somem!
E é em uma dessas mudanças que chegam a Paradise. E é ali que tudo muda. Quatro, com o nome John Smith, já chega na nova escola se envolvendo em problemas: uma linda garota e seu ex-namorado esportista e valentão.
A partir daí, além de toda a história de fuga por ser um lorieno, vemos se desenrolar todos os dramas adolescentes que estamos acostumados. Sarah é fofa e conseguiu me cativar, seu ex é um idiota e me irritou.
Mas é o que acontece enquanto vive tudo isso que me deixou um pouco incomodado. Tudo bem que o amor faz as pessoas fazerem coisas meio doidas, mas John exagera e, em poucos dias de romance, já arrisca tudo que levou anos para construir com Henri. E isso inclui a segurança dos dois.
Acompanhar uma dose de normalidade entre treinos e práticas de poderes lorienos é interessante, mas mesmo sabendo que ele precisa ter experiências típicas dos adolescentes não consigo entender suas decisões que quase colocam tudo a perder.
Quatro é um personagem que me causou sentimentos dúbios exatamente pelo que citei acima. Ao mesmo tempo que entendia sua vontade de viver, o fato de agir de forma inconsequente em algumas situações tirou um pouco do carinho que poderia vir a ter por ele.
Preciso citar Bernie Kosar como o cachorro mais interessante que já vi nos livros – pelo menos que me lembre. E, claro, não posso deixar de fora Sam Goode, o bom amigo nerd viciado em história de ETs que está pronto para ajudar no que der e vier.
O ponto alto, na minha humilde opinião, são as cenas de ações finais. Fiquei tenso esperando o desfecho e juro que até emocionei.
E é isso, um livro que não me arrependo de ter lido, que recomendo, mas que não foi tudo que imaginei que seria. Pois é, esse é problema de criar expectativas muito altas. Independente disso estou ansioso para o próximo da série e foi um lançamento que trouxe um fôlego a mais para quem estava preso na roda vampiro/anjos/distopia.
Citando também a  “magia” criada em torno da idéia de colocar Pittacus Lore, ancião de Lorien, como autor foi boa… Mas como pode ser ele se quem narra a história é o Quatro? Pois é, vai entender.
Recomendo leiam o livro e depois assistam ao filme.
Segue em seguida um trailer do filme que meu aluno Porsi  emprestou depois que li o livro.

Oriente Médio


Israelenses lutam contra palestinos. Xiitas se opõem a sunitas. Radicais muçulmanos organizam ataques terroristas. Para entender o maior barril de pólvora do mundo, é preciso conhecer a história do local.


Eduardo Szklarz |

Em 7 de outubro de 2001, menos de um mês após os ataques terroristas aos Estados Unidos, a rede de TV árabe Al Jazeera transmitiu um vídeo de Osama bin Laden. Nele, o chefe da rede Al Qaeda falava da "humilhação" que o Islã havia sofrido durante "mais de 80 anos". O líder radical referia-se ao fato de, em 1918, o Império Turco-Otomano – a última grande potência muçulmana – ter sido derrotado pelos europeus. Sua capital Constantinopla foi tomada e a maior parte das terras, conquistadas por Maomé a partir do século 7, divididas em territórios com fronteiras novas e nomes inspirados em regiões da Antiguidade cujos limites não correspondiam ao novo traçado. Dois deles, chamados de Iraque e Palestina (hoje Israel, Jordânia e Cisjordânia), ficaram sob domínio britânico. Já o terceiro, que recebeu o nome de Síria (atuais Síria e Líbano), coube aos franceses. Pior: quatro anos depois, o califado, símbolo da unidade política do Islã por 13 séculos, cedia lugar a estados-nações com leis e costumes importados do Ocidente.

Bin Laden não é o único que usa os ressentimentos do passado para justificar ações presentes. No Oriente Médio, batalhas e heróis de séculos (ou milênios) atrás continuam reverberando no discurso dos líderes atuais para mobilizar as massas. Judeus até hoje celebram a conquista de Jerusalém por Davi, há 3 mil anos, e a unificação do antigo reino de Israel. Hassan Nassralah, chefe do Hezbollah, gosta de se comparar ao líder curdo Saladino, que em 1187 liderou a vitória dos muçulmanos sobre os cruzados na Terra Santa. O dirigente iraquiano Saddam Hussein dizia-se herdeiro do rei babilônico Nabucodonosor e de Saladino – embora Saddam tenha matado milhares de curdos nos anos 80. 

A simbologia do passado é tão forte no Oriente Médio que as disputas nacionais acabam assumindo caráter religioso. Foi assim com o conflito entre israelenses e palestinos, que começou no início do século 20 como uma luta por terras e acabou atraindo radicais religiosos dos dois lados. É assim no Iraque, onde milícias armadas revivem hoje o conflito instaurado pelo cisma entre sunitas e xiitas nos primórdios do Islã. 

É fato que os interesses petroleiros também ajudam a explicar as tensões no Oriente Médio. Mas a região só se tornou um dos pontos mais inflamáveis do mundo graças à constante mescla entre religião e política, entre passado e presente. Portanto, para entender o que ocorre lá hoje, é preciso voltar no tempo. Pelo menos 5 mil anos atrás. 

PRIMEIROS HABITANTES
O mapa do Oriente Médio que vemos hoje é apenas o mais recente capítulo de uma longa saga. Desde 3 mil a.C., essa faixa de terra na encruzilhada da Europa, Ásia e África foi dominada – em maior ou menor escala – por diversos reinos e impérios, em conquistas não-lineares. Entre eles, os egípcios (a partir de 2500 a.C.), hititas (por volta de 1500 a.C.), israelitas (século 10 a.C.), assírios (século 8 a.C.), babilônios (século 7 a.C.), persas (século 6 a.C.), macedônios (século 4 a.C.), romanos (século 1), bizantinos (século 5), sassânidas e califado islâmico (século 7), seljúcidas, cruzados e muçulmanos liderados por Saladino (século 12), império mongol (século 13), império otomano (século 16) e potências ocidentais, no início do século 20. 

A maioria desses povos não existe mais. A civilização dos faraós, por exemplo, nada tinha a ver com os árabes que hoje habitam o Egito. Adorava outros deuses, falava outra língua e utilizava diferentes formas de escrita. Cananeus, israelitas, fenícios e filisteus também já viviam no Oriente Médio milhares de anos antes do advento do Islã. Eles habitavam a parte ocidental do chamado Crescente Fértil (hoje, os territórios de Israel, Líbano e Cisjordânia). Por volta do século 13 a.C., os israelitas conquistaram Canaã, ao sul do Crescente, onde viviam cananeus e jebuseus, entre outros, e formaram um reino ao norte (Israel) e outro ao sul (Judá), que 300 anos depois seriam unificados pelo rei Davi, tendo Jerusalém como capital. Enfraquecido por disputas internas, o reino de Israel foi conquistado por Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 586 a.C. Os judeus foram exilados.

Outros povos tiveram pior sorte. "Os filisteus desapareceram durante as conquistas babilônicas; já os fenícios permaneceram na costa do Mediterrâneo até a época romana [século 1]", diz o historiador Bernard Lewis, da Universidade de Princeton, no livro "O Oriente Médio". Outro povo que sumiu foram os nabateus, rica civilização semita que fez sua capital na cidade de Petra, na atual Jordânia. Os sumérios, acádios e assírios, que habitaram a Mesopotâmia (entre os rios Tigre e Eufrates), entraram em declínio com a avalanche de impérios e batalhas. 

A partir do século 3, o Oriente Médio virou palco de sangrentos embates entre as duas principais potências da época: Pérsia e Roma. Até então, o cristianismo não tinha papel importante. "No início, os seguidores de Jesus foram uma seita perseguida. Mas com a conversão do imperador Constantino, no século 4, o cristianismo se tornou a religião oficial de Roma", diz o pesquisador americano Michael Hart. Foi quando a situação começou a mudar.

No século 5, o Império Romano do Ocidente sucumbiu ante as invasões bárbaras à Europa, mas o Império Romano do Oriente, mais conhecido como Bizantino, ainda se manteria por mil anos. Constantino havia feito sua capital em Bizâncio, rebatizada de Constantinopla (atual Istambul). Embora falassem grego, os bizantinos se consideravam romanos e levaram adiante as guerras contra os persas. Em 637, quando persas e bizantinos estavam exaustos de lutar, o Oriente Médio caiu na mira de uma nova potência: o Islã, fundado pelo profeta Maomé. 

A REGIÃO SOB O ISLà

"Os exércitos de Maomé partiram da Arábia e avançaram sobre o Oriente Médio, África, Europa, Índia e China ao mesmo tempo, aliando a vanguarda da ciência ao maior poderio militar da Terra", diz Lewis. Maomé chegou com uma novidade em relação aos líderes cristãos: foi ao mesmo tempo líder político e religioso. "Ao longo da história cristã, Igreja e Estado desenvolveram hierarquias diferentes. As duas podem estar unidas ou, em tempos modernos, separadas. Mas, na sociedade concebida por Maomé, nunca foi criada uma instituição semelhante à Igreja", diz Lewis. "Não há no Islã a distinção entre a lei da mesquita e a lei do Estado. Há apenas uma única lei, a sharia, que regula todos os aspectos da vida humana." Com a morte de Maomé, em 632, a comunidade islâmica se dividiu sobre quem seria seu primeiro sucessor – o califa. A maioria apoiou a escolha de Abu Bakr, companheiro e sogro de Maomé. Outros desaprovaram essa decisão, dizendo que a única liderança legítima era a que vinha da linhagem do primo e genro do profeta, Ali. Os partidários de Bakr ficaram conhecidos como sunitas, enquanto os de Ali foram chamados de xiitas. "Sunita" vem da palavra árabe sunnah, que se refere às palavras e ao exemplo do profeta Maomé. Já "xiita" vem de shia, ou seguidor (de Ali). Esse cisma até hoje gera conflitos na região. 

Certo é que os primeiros califas foram árabes e muçulmanos – isto é, faziam parte do povo árabe e seguiam a fé islâmica. (Muita gente hoje confunde "árabe" com "muçulmano", embora apenas 30% dos muçulmanos sejam árabes.) Nos séculos seguintes, o poder do califado foi exercido por dinastias diversas, como a dos omíadas (sediados em Damasco) e abássidas (com sede em Bagdá). Mas, apesar dessa diversidade, o califado se manteve como símbolo maior da unidade do Islã. Por vezes, essa unidade era ameaçada. Em 1096, por exemplo, o papa Urbano II resolveu dar um basta ao domínio muçulmano na Terra Santa e enviou a primeira de uma série de expedições – as Cruzadas – para reconquistá-la. Foi um banho de sangue. "Cabeças, mãos e pés se amontoavam nas ruas de Jerusalém", escreveu Raymond de Aguiles, cristão e testemunha da matança. Os cruzados expulsaram os judeus da cidade e transformaram as mesquitas em igrejas, baita humilhação aos muçulmanos. Mas o reino cruzado durou pouco. Os muçulmanos se reorganizaram em torno do general Saladino, que em 1187 entrou triunfante em Jerusalém, aceitou a rendição dos cristãos e permitiu a volta dos judeus. Detalhe: Saladino era curdo, não árabe. Sinal de que o poder estava mudando de mãos no Oriente Médio. Pouco depois, a região passou ao domínio dos mongóis, que com o tempo se converteram ao Islã. 

A mudança maior ocorreu no século 15 com a formação de um novo império muçulmano: o dos turcosotomanos, que tomaram Constantinopla em 1453 e ampliaram seus domínios até a África e a Europa. "Os sultões otomanos se proclamaram califas, embora fossem turcos, não árabes. Tampouco eram descendentes de Maomé", diz o historiador inglês Christopher Catherwood, da Universidade de Cambridge. "Mas, com o sucesso de seu superestado, poucos muçulmanos contestariam a autoridade islâmica da nova dinastia dos califas. O orgulho muçulmano foi revigorado com a supremacia." Resultado: durante quase mil anos – entre o declínio do Império Romano e o advento da modernidade – o Islã esteve na dianteira do progresso humano. Era a principal potência econômica e comercial do planeta, vanguarda nas artes e nas ciências. Mas, de repente, a balança se inverteu. Os europeus promoveram o Renascimento e recuperaram o atraso científico. No século 16, Espanha, Portugal, Áustria e Rússia haviam ganhado sucessivas batalhas contra os exércitos de Alá. Em fins do século 17, o Islã era uma força em retirada e seus líderes se sentiam ameaçados pelos impérios ocidentais. Mais: o Ocidente renovou seus valores com a Revolução Francesa e promoveu a Revolução Industrial, enquanto o Islã, numa inversão do curso, parecia estagnado. 

Em 1798, o francês Napoleão Bonaparte entrou no Egito e, pela primeira vez, submeteu os centros vitais do Islã ao domínio de uma potência ocidental. Com o Império Otomano tremendo nas bases, a situação das minorias religiosas piorou muito. Até então, judeus e cristãos (reconhecidos como "povos do livro") podiam seguir suas tradições desde que respeitassem as autoridades e pagassem impostos. Eram cidadãos de segunda classe – por exemplo, nunca podiam testemunhar num julgamento contra um muçulmano –, mas podiam contar com a proteção do califa. "Com a crise do Império Otomano, ficou difícil manter a tolerância baseada na superioridade religiosa. As minorias não-muçulmanas passaram a ser vistas como agentes das mudanças", diz Lewis. À medida que a situação piorava, crescia a influência do partido Jovens Turcos, que buscava modernizar o país. Em 1913, a facção extremista do partido derrubou o sultão Abdul Hamid II e instaurou um regime para acabar com a diversidade do império. No jargão dos extremistas, essa idéia era chamada de "panturquismo" – e significava a exclusão de todas as minorias. 

Esse nacionalismo era uma novidade e tanto na história dos impérios muçulmanos. Até então, não importava se seus integrantes fossem árabes, persas, curdos: o importante era que fossem muçulmanos. Agora, os manda-chuvas declaravam que mais importante era ser turco. Um tiro que sairia pela culatra. Fronteiras pós-guerra Quando estourou a Primeira Guerra, em 1914, a maioria dos árabes manteve-se leal ao Império Otomano. "Os curdos também tomaram o seu lado e, estimulados pelos otomanos, massacraram centenas de milhares de armênios cristãos", diz Catherwood. Na Europa, franceses, ingleses e russos se aliaram contra o expansionismo alemão. Os Jovens Turcos decidiram lutar do lado da Alemanha. Ingleses começaram a treinar tribos árabes de dentro do próprio Império Otomano contra os turcos usando táticas de guerrilha. Figura famosa da época foi T.E. Lawrence, soldado e arqueólogo inglês que teria liderado a Revolta Árabe (1916-18) contra os turcos. Ele ficou tão famoso que mereceu um filme – Lawrence da Arábia. Mas a revolta e o papel de Lawrence ainda geram polêmica entre os historiadores. 

"Grandes trechos do filme são fictícios", diz Catherwood. "Fica parecendo que os árabes foram traídos por britânicos e franceses. É como se os valorosos libertadores árabes fossem manipulados pelos perversos ocidentais", diz ele. "Investigações recentes deixam claro que não foi o que aconteceu. O que ocorreu foi uma invasão australiano-britânica, comandada pelo general Allenby, que de fato libertou toda a região dos turcos, junto com invasões das tropas indianas lideradas por britânicos. Não fosse isso, o exército turco teria saído vitorioso e a revolta teria sido relegada ao esquecimento." Segundo Catherwood, realmente havia árabes descontentes com o domínio turco, sobretudo quando as atrocidades contra os armênios atingiram escala genocida. Mas a proporção de árabes que se revoltaram e combateram ao lado dos britânicos foi pequena. Seja como for, tribos árabes ficaram frustradas no fim da guerra, quando os turcos jogaram a toalha. Franceses e britânicos lotearam as terras do Império Otomano e as dividiram em fronteiras novas. "Até os nomes refletem essa artificialidade. Iraque havia sido uma província medieval com fronteiras muito diferentes das atuais. Síria, Líbano e Palestina são nomes da Antiguidade clássica que não haviam sido utilizados na região durante mil anos", diz Lewis. 

Os franceses criaram o Líbano atual tomando parte da Síria, enquanto os britânicos traçaram as fronteiras da Transjordânia (atual Jordânia), do Iraque e do Kuwait. Na cabeça de cada um desses países, os europeus puseram líderes de clãs árabes pró-Ocidente para endossar seus interesses pelo petróleo. “Essa criação de nações com fronteiras artificiais, unindo povos com identidades e lealdades ancestrais muito distintas, foi um processo frágil que plantou a semente de crises de legitimidade e poder”, diz o americano John Esposito, professor de Estudos Islâmicos na Universidade de Georgetown. Na Turquia, último vestígio do Império Otomano, convencido de que precisava modernizar o país, o líder turco Kamal Ataturk instituiu a República, separou a religião da política e aboliu o califado – que havia sido o símbolo da identidade muçulmana durante 13 séculos. É a esse momento que Bin Laden se refere ao falar dos 80 anos de “humilhação” do Islã. Afinal, boa parte do mundo muçulmano se via nas mãos de líderes ocidentalizados. A a colonização não durou mais que 30 anos, mas ajudou a enterrar a unidade muçulmana da época medieval.

Na Palestina, a Inglaterra se viu com uma batata quente nas mãos: conter os crescentes enfrentamentos entre árabes e judeus. Ambos reivindicavam aquelas terras para a construção de seu lar nacional. Em 1947, os ingleses abriram mão da colônia e passaram a bola para a Assembléia Geral da ONU, que votou pela divisão da Palestina em dois estados: um judeu e outro árabe (palestino). Os judeus aceitaram o plano, mas a Liga Árabe o rejeitou. 

Resultado: após sua independência, em 1948, Israel foi invadido pelos países vizinhos. Tinha início a primeira das seis guerras árabesisraelenses – e com ela o problema dos refugiados palestinos. Com o cessar-fogo, em 1949, Israel ficou com parte de Jerusalém e um território um pouco maior que o planejado pela ONU. As zonas que seriam destinadas aos palestinos – Gaza e Cisjordânia – ficaram com Egito e Jordânia, dois países árabes, mas o Estado palestino não foi criado. 

Islamismo x Islã 
Nos anos 50 e 60, a Guerra Fria dividiu o Oriente Médio entre dois blocos de Estados antagônicos. “Os chamados conservadores, como a Arábia Saudita, os sultanatos, emirados, a Jordânia e o Marrocos, formavam um grupo de monarquias sob forte influência ocidental – especialmente dos Estados Unidos”, diz o historiador Peter Demant, da Universidade de São Paulo, em O Mundo Muçulmano. “Por outro lado, houve uma série de regimes ditos progressistas, originados de revoluções antiocidentais. Foi o caso de Egito, Líbia, Síria, Iraque e Argélia, alinhados à União Soviética, com um discurso nacionalista e socialista.” O ditador egípcio Gamal Abdel Nasser, por exemplo, promovia a união dos árabes sob a bandeira do pan-arabismo. “Mas o nacionalismo/socialismo árabe se viu desacreditado pela desastrosa derrota de Egito, Jordânia e Síria frente a Israel na guerra de 1967 [quando Israel conquistou Jerusalém oriental, Gaza, Cisjordânia e as colinas do Golã], além do fracasso econômico e da corrupção de seus governos”, diz Esposito. 

A essa altura, uma enorme sensação de insatisfação se propagava entre as massas do Oriente Médio e do mundo islâmico. Ela criou condições para a emergência de um movimento radical, o popular “fundamentalismo”, embora seja mais correto dizer “islamismo”. 

"O islamismo é uma ideologia totalitária que busca o poder sob a desculpa da religião", diz o analista espanhol Gustavo Arístegui em O Islamismo Contra o Islã. "É uma manipulação da religião islâmica." Os islamistas (fundamentalistas) dizem que o Islã errou ao adotar o modo de vida ocidental. Portanto, é preciso derrocar os governantes muçulmanos moderados e implantar regimes baseados na sharia. “No longo prazo, eles pretendem formar uma federação desses regimes e restabelecer o califado”, diz Arístegui. O berço desse radicalismo foi o grupo Irmandade Muçulmana, criado no Egito em 1928. O fundador, Hassan al-Banna, defendia a purificação do Islã contra qualquer elemento ocidental. Banna foi morto pelo governo do Cairo, mas sua ideologia sobrevive em grupos como Hamas e Hezbollah e na rede terrorista Al Qaeda. O palestino Abdullah Azzam, mentor de Bin Laden, era da Irmandade Muçulmana. O egípcio Said Qutb, ideólogo do grupo, influênciou muito o líder da Al Qaeda. “Esses radicais justificam o terrorismo recitando a lista de ressentimentos padecidos por culpa do Ocidente: as Cruzadas, o colonialismo, a criação de Israel, a Guerra Fria e a presença americana nas terras sagradas do Golfo”, diz Esposito. Bin Laden tem pouco (ou nada) a ver com a causa palestina. Mas falar em nome dela, como pode ser notado hoje, é garantia de apoio.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Se um Dia...





Se um dia
eu perder o medo
de gastar folhas de papel,
escreverei tudo
o que sinto por ti.

Serei tão direto
que te bastará ler
apenas as três primeiras palavras,
para saberes aquilo que representas para mim.

Nesse dia
quando eu te escrever,
irei fazer longas pausas entre cada virgula...
elas irão me lembrar da sorte que tive
em te encontrar.

terça-feira, 14 de junho de 2011

CPI

O presente artigo traça as principais características de um Comissão Parlamentar de Inquérito.



A Comissão Parlamentar de Inquérito, mas conhecida como CPI é um tipo de Comissão Parlamentar que funciona dentro do poder legislativo. Na esfera municipal, as Comissões Parlamentares funcionam dentro da Câmara de Vereadores, no Governo Estadual funcionam na Assembléia Legislativa e no Governo Federal funcionam no Congresso, tanto na Câmara de Deputados como no Senado Federal. 

Formadas por grupos de parlamentares, as Comissões tem por função discutir e tratar de assuntos determinados, podendo serem permanentes ou temporárias, temáticas ou técnicas, de inquérito ou de recesso. 

Como Comissão temporária, a CPI tem tempo determinado, geralmente 120 dias, podendo esse tempo ser estendido. Para a ocorrer, a CPI deverá apurar um fato concreto e determinado que atenda ao interesse público, não podendo tratar de assuntos privados. Para ser instaurada, a CPI necessita de 1/3 dos votos dos parlamentares da casa, podendo ser considerada como direito da minoria organizada, que utilizará a CPI para investigar os atos e as políticas de um governo (poder executivo) a qual se opõem. 

Em seu âmbito de competência, uma CPI poderá investigar um problema que afeta a coletividade, poderá no final de sua investigação propor alterações nas políticas públicas, a criação de um programa de políticas que atendam a resolução desse problema, como também poderá sugerir alterações na lei ou até a criação de novas leis. 

Usualmente, a mídia empresarial cria todo um sensacionalismo em torno das CPIs para vendar anúncios publicitários, sensacionalismo que não trata a questão de forma adequada, dando a impressão que uma CPI poderá julgar e punir políticos corruptos. O que não é verdade, já que a CPI não tem competência para julgar ou punir os fatos que apurou, pois a sua competência e a sua prerrogativa é de investigar, podendo posteriormente enviar o resultado de sua investigação ao Ministério Público ou ao Tribunal de Contas (órgão fiscalizador do legislativo). 

Quando a CPI envia seu relatório final ao Ministério Público, esse deverá dar uma resposta em prazo determinado sobre quais providências irá tomar, se o relatório for coerente e não tiver nenhum erro, o Ministério Público levará a questão para ser discutida no Judiciário, podendo esse, e apenas esse, julgar e punir os eventuais culpados. 

A CPI deve funcionar de acordo com a lei, respeitar as garantias fundamentais e seguir o seu regimento interno, que é votado e aprovado pelos seus membros. Tendo poder de autoridade judicial, a CPI pode intimar testemunhas e fazer diligências, pode obter informações sigilosas, ou ainda convocar de forma obrigatória funcionários do poder executivo, como por exemplo um secretário de governo ou um presidente de uma autarquia, desde de que esses sejam pertencentes a mesma esfera de poder onde a CPI está situada. O que implica dizer que uma CPI instaurada numa Câmara de Vereadores não pode convocar uma autoridade do Governo Estadual, podendo apenas convidar essa autoridade, o mesmo se diz em relação a civis, que serão apenas convidados.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

123º Aniversário de Fernando Pessoa

Hoje 123º Aniversário de Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa (1888-1935, Lisboa), poeta e escritor português. Pessoa é considerado junto de Luís Vaz de Camões um dos mais importantes poetas de língua portuguesa.


"Tenho pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-los viver,
acrescentariam nova luminosidade às estrelas, nova beleza ao
mundo e maior amor ao coração dos homens."


(Fernando Pessoa, em "O Eu Profundo")


E pra comemorar esse Lindo Poema


 LIBERDADE

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...
     
 Fernando Pessoa

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Resenha como fazer?


A resenha é uma análise crítica de um texto escrito, geralmente, um livro. Há regras específicas para resenhas acadêmicas, daquelas que são publicadas em revistas especializadas e, embora as resenhas nos blogs sejam mais livres, algumas das regras para a resenha acadêmica podem e devem ser seguidas.
Uma definição maior de resenha aponta para o fato de que se trata de um estilo de composição textual em que se constrói relações entre as qualidades, linguísticas, de abordagem da temática textual, de desenvolvimento de personagens, consistência e coerência da narrativa, entre outros pontos que compõem as qualidades necessárias de uma obra, que são muitos e diversificados, dependendo inclusive do estilo do livro resenhado. É necessário, é primordial para falar a verdade, que sejam apontados na resenha aspectos considerados relevantes sobre a obra resenhada.
Quando se trata do segundo, terceiro, etc. livro de uma série, espera-se que a resenha contenha pelo menos alguns spoilers do(s) livro(s) anteriores, mas a regra de não-spoilers do livro resenhado continua valendo, sempre. Já que resenha é bem diferente de resumo e não deve ser uma “síntese” dos acontecimentos do livro.
Por ser uma “análise crítica”, a resenha deve expressar opiniões, embora muita gente discorde disso. Há sim que se expressar a opinião de quem leu o livro, mas ela não deve, de forma alguma, se limitar ao “gostei”, “amei” e coisas do gênero. O resenhista deve expressar sim sua opinião pessoal, assim como seus julgamentos em relação à obra resenhada.

domingo, 5 de junho de 2011

Conto X Crônica


Crônica X Conto

Semana passada, dois alunos  questionaram-me sobre a diferença entre crônica e conto. 
Na sala de aula, fiz a explicação da diferença básica, mas acabei pesquisando um pouco  sobre o assunto. E o resultado  estou compartilhando aqui com vocês.
Espero que aproveitem!


crô.ni.ca
s. f. 1. Narração histórica, por ordem cronológica. 2. Seção ou coluna, de jornal ou revista, consagradas a assuntos especiais.

con.to.1
s. m. 1. Narração falada ou escrita. 2. História ou historieta imaginadas. 3. Fábula. 4. Mentira inventada para iludir indivíduos rústicos; engodo, embuste. — C.-do-vigário: embuste para apanhar dinheiro das pessoas de boa-fé.

O Conto é a forma narrativa, em prosa, de menor extensão (no sentido estrito de tamanho), ainda que contenha os mesmos componentes do romance. Entre suas principais características, estão a concisão, a precisão, a densidade, a unidade de efeito ou impressão total – da qual falava Poe (1809-1849) e Tchekhov (1860-1904): o conto precisa causar um efeito singular no leitor; muita excitação e emotividade.


Crônica, é o único gênero literário produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa, seja nas páginas de uma revista, seja nas páginas de um jornal. Quer dizer, ela é feita com uma finalidade utilitária e pré-determinada: agradar aos leitores dentro de um espaço sempre igual e com a mesma localização, criando-se assim, no transcurso dos dias ou das semanas, uma familiaridade entre o escritor e aqueles que o lêem. A crônica é, primordialmente, um texto escrito para ser publicado no jornal. Assim o fato de ser publicada no jornal já lhe determina vida curta, pois à crônica de hoje seguem-se muitas outras nas próximas edições.

Basicamente, o que diferencia o conto da crônica é a densidade poética.
O conto é pesado, a crônica é leve. O conto deve provocar e inquietar, a crônica deve entreter e deleitar. A crônica é a prosa curta, amena e coloquial, com toques de malícia e humor, sobre os fatos políticos da atualidade ou sobre os hábitos e costumes dos diversos segmentos sociais. O conto é todo o resto, é toda a prosa curta que não é crônica.

No conto a história é completa e fechada como um ovo. É uma célula dramática, um só conflito, uma só ação. A narrativa passiva de ampliar-se não é conto.
Poucas são as personagens em decorrência das unidades de ação, tempo e lugar. Ainda em conseqüência das unidades que governam a estrutura do conto, as personagens tendem a ser estáticas, porque as surpreende no instante climático de sua existência. O contista as imobiliza no tempo, no espaço e na personalidade (apenas uma faceta de seu caráter).

A crônica é um gênero híbrido que oscila entre a literatura e o jornalismo, resultado da visão pessoal, particular, subjetiva do cronista ante um fato qualquer, colhido no noticiário do jornal ou no cotidiano. É uma produção curta, apressada (geralmente o cronista escreve para o jornal alguns dias da semana, ou tem uma coluna diária), redigida numa linguagem descompromissada, coloquial, muito próxima do leitor. Quase sempre explora a humor; mas às vezes diz coisas sérias por meio de uma aparente conversa – fiada. Noutras, despretensiosamente faz poesia da coisa mais banal e insignificante.

E, finalmente, a crônica é o relato de um flash, de um breve momento do cotidiano de uma ou mais personagens. O que diferencia a crônica do conto é o tempo, a apresentação da personagem e o desfecho.

No conto, as ações transcorrem num tempo maior: dias, meses, até anos, o que não se dá na crônica, que procura captar um lance curioso, um momento interessante, triste ou alegre. No conto, a personagem é analisada e/ou caracterizada, há maior densidade dramática e freqüentemente um conflito, resolvido em desfecho. Na crônica, geralmente não há desfecho, esse fica para o leitor imaginar e, depois, tirar suas conclusões. Uma das finalidades da crônica é justamente apresentar o fato, nu, seco e rápido, mas não concluí-lo. A possível tese fica a meio caminho, sugerida, insinuada, para que o leitor reflita e chegue a ela por seus próprios meios.