segunda-feira, 30 de abril de 2012

Luís Fernando Veríssimo


Luís Fernando Veríssimo

"A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo?"

Incesto Real


Incesto real

Os casamentos entre parentes de dinastias europeias eram arranjados para favorecer alianças políticas. Mas geraram descendentes com problemas físicos e mentais. Nos Habsburgos, a sequela mais visível era o queixo protuberante
por PEDRO PROCÓPIO | 04/10/2011 19h02

Conta-se que, ao pisar na Espanha pela primeira vez, Carlos 5º, do Sacro Império Romano-Germânico, ouviu o grito de um homem do povo: "Majestade, feche a boca, pois as moscas deste país são muito insolentes". Corria o ano de 1517, e o abusado camponês, se existiu, percebeu de cara um defeito no nobre nascido na cidade de Gante (atual Bélgica) que vinha assumir o trono espanhol. Carlos 5º (e 1º da Espanha), que lá estava como herdeiro de seus avós maternos, Isabel 1ª de Castela e Fernando 2º de Aragão, os chamados Reis Católicos, era dono de um queixo descomunal. Tanto que não conseguia unir os lábios e impedir o acesso de possíveis insetos voadores, ficando com o ar apalermado, que teria motivado o gracejo do petulante plebeu.

Seu feio trineto Carlos 2º da Espanha, além da coroa, levou de brinde a deformação óssea da face conhecida como prognatismo - a mandíbula se projeta em relação ao maxilar e o lábio inferior se torna mais saliente. No caso de Carlos 2º, o queixão acarretava dificuldades de mastigação e de fala. Os Carlos, você deve ter reparado, partilhavam de um defeito genético. Estigma marcante durante séculos nos Habsburgos, a poderosa dinastia originária da Suíça, à qual pertenciam os dois monarcas, o prognatismo ficou tão identificado com a família que é conhecido também como mandíbula ou lábio de Habsburgo ou de Áustria. Os rostos desses e de outros soberanos - Filipe 4º da Espanha, pai de Carlos 2º, por exemplo - estão bem documentados em pinturas. Considerada a hipótese de que os pintores de corte - mesmo um mestre como Diego Velázquez - amenizavam os traços para não irritar seus retratados, é possível imaginar queixadas mais avantajadas ainda.

O culpado de tudo isso - o primeiro Habsburgo prognata - foi possivelmente Ernesto 1º da Áustria (1377-1424). Se a praxe fosse buscar gente de outras origens para os casamentos, o gene queixudo de Ernesto encontraria novos DNA s e provavelmente sumiria em sua descendência. Acontece que os Habsburgos, como outros nobres, apreciavam matrimônios com parentes, a endogamia. Era um jeito de preservar o sangue azul e estabelecer alianças políticas. A falta de "sangue novo" na herança genética, no entanto, perpetuava (e acentuava) características físicas indesejáveis, provocava o surgimento de doenças congênitas e aumentava a mortalidade infantil naquelas famílias.


Geneticistas espanhóis traçaram a árvore genealógica de Carlos 2º e constataram que sua carga genética era equivalente à de um incesto entre irmãos ou entre pais e filhos. "Provavelmente, o gene do prognatismo atuava combinado com outros, o que fazia com que alguns dos Habsburgos apresentassem a má-formação e outros não", afirma Jaime Anger, cirurgião plástico do Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo.

O prognatismo aberrante não era a única desgraça de Carlos 2º, sugestivamente alcunhado de "o Enfeitiçado". Só começou a andar aos 4 anos e tinha desarranjos intestinais e febres, além de certo atraso mental. De todas as mazelas, nada superou, para fins dinásticos, sua incapacidade de gerar um herdeiro em seus dois casamentos - Carlos seria estéril. Quando morreu, aos 38 anos, aparentava uma idade muito mais avançada.

Além do célebre queixo de Habsburgo, discute- se a presença de outros males de origem genética transmitidos pelos repetidos casamentos entre parentes das dinastias europeias. A porfiria, um distúrbio do metabolismo, permaneceu por muito tempo sendo a explicação para a insanidade mental do rei George 3º do Reino Unido (1738-1820). Nos anos 1960, apareceram artigos com títulos como A Insanidade do Rei George 3º: Um Caso Clássico de Porfiria e Porfiria nas Casas Reais de Stuart, Hanôver e Prússia, escritos pelos psiquiatras e historiadores Ida Macalpine e Richard Hunter. Segundo essa visão, Mary Stuart (1542-1587) seria a primeira personalidade documentada a passar a enfermidade adiante em sua árvore genealógica. No entanto, há outras hipóteses para a instabilidade de George - em cujo reinado os Estados Unidos se tornaram independentes dos ingleses. Já na década de 40, falava-se em psicose maníaco-depressiva. Timothy Peters, da Universidade de Birmingham, num estudo do ano passado, prefere considerar a possibilidade de transtorno bipolar. Como a porfiria não tem uma manifestação visual facilmente identificável em pinturas e não se desenterraram os nobres para fazer um diagnóstico retrospectivo, cravar explicações científicas definitivas é mais difícil que no caso do escancarado prognatismo mandibular.

Outra enfermidade que foi tida como praga endogâmica é a hemofilia, que teria se espalhado como verdadeira "doença real" por culpa da rainha Vitória do Reino Unido (1819-1901). Há que se considerar dois fatos. Primeiro, que Vitória provavelmente não herdou o gene hemofílico dos costumeiros matrimônios entre parentes - no caso dela, teria ocorrido uma mutação cromossômica espontânea. Outra é que casamentos entre primos (Vitória se casou com um de primeiro grau, Albert) raramente aumentam as chances de uma possível transmissão desse transtorno da coagulação sanguínea. Isso posto, Vitória, de fato, legou a hemofilia a algumas pessoas de sua farta descendência. Entre elas, figura o bisneto Alexei Nikolaevich Romanov, herdeiro do trono russo assassinado em 1918, aos 13 anos, pelos bolcheviques. Tudo isso era especulação até 2009, quando se publicaram os resultados de exames de DNA feitos em ossos dos Romanovs descobertos dois anos antes. Comprovado: Vitória passou ao menino que não foi czar a hemofilia B, segundo tipo mais comum da doença.



O rei "Paquita"

Características como elevado apetite sexual e loucura foram associadas aos Bourbons ao longo do tempo. O rei Fernando 6º da Espanha (1713-1759) teria transado com a mulher agonizante, Bárbara de Bragança. Seu meio-irmão e sucessor, Carlos 3º, era obsessivo: fazia tudo sempre exatamente nos mesmos horários. A mandíbula de Áustria, em virtude de ancestrais comuns, também se fez presente no rosto dos Bourbons.

Como os Habsburgos, eles também se casaram muito entre si. Uma das histórias mais curiosas está ligada à rainha Isabel 2ª da Espanha (1830-1904) e ao seu marido, o rei consorte Francisco 1º (1822-1902). Ambos eram primos em dose dupla - o pai dele era irmão do pai dela, e a mãe dele era irmã da mãe dela. Acontece que Francisco era gay, e Isabel começou a pular a cerca. Nos salões e nas ruas de Madri, Francisco tinha o apelido de Paquita (Chiquinha). Existe até a possibilidade de os 11 filhos de Isabel (só 5 chegaram à idade adulta) não serem de Francisco. Por essa tese, o rei Afonso 12, bisavô do rei atual, Juan Carlos 1º, seria fruto de um caso de Isabel com o capitão Enrique Puigmoltó. Se assim foi, as traições de Isabel serviram como antídoto contra os males da endogamia bourbônica.

Clã internacional

A instituição do matrimônio consanguíneo levou à formação de um grande clã internacional de monarcas. O inglês e o russo médios tinham (e ainda têm) tipos físicos distintos, mas o mesmo se podia dizer de dois soberanos que reinavam separados por milhares de quilômetros. George 5º do Reino Unido (1865-1936) e o czar Nicolau 2º da Rússia (1868-1918) eram netos do rei Christian 9º da Dinamarca, apelidado de “o sogro da Europa” graças ao sucesso dos casamentos políticos de seus filhos. Os primos George e Nicolau mais pareciam gêmeos (veja foto na pág. ao lado). Em 1893, quando George, então príncipe e duque de York, casou-se, a plebe presente à cerimônia, em Londres, chegou a se confundir ao ver o convidado Nicolau.

Por essa época, a mandíbula de Habsburgo já havia cruzado o oceano e chegado ao Brasil. Produto de casamentos entre parentes e com diferentes sobrenomes dinásticos nas costas – Bragança, Orleans, Habsburgo, Bourbon -, o nosso dom Pedro 2º (1825-1891) também foi prognata. Seu avô, dom João 6º, era filho de um tio com uma sobrinha. Seu pai, dom Pedro 1º, e sua mãe, a imperatriz Leopoldina (filha do imperador do Sacro Império Romano-Germânico e, portanto, Habsburgo de alta linhagem), eram primos em segundo grau. João, Pedro e Leopoldina tinham o queixo deslocado para a frente. Em As Barbas do Imperador, a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz defende que Pedro 2º deixou os pelos crescerem no rosto para parecer mais velho e respeitável. Reza outra lenda que o visual servia mesmo para camuflar o queixão.


 A endogamia, no entanto, não se restringiu às monarquias europeias. Exemplos são encontrados no Egito antigo, onde havia casamentos entre irmãos. Cleópatra casou-se com dois, o Ptolomeu 13 e o 14. Em Roma, ocorriam enlaces entre primos, caso de Nero e Claudia Octavia. Há indícios de que os incas na América do Sul também casavam irmãos e irmãs sem drama de consciência Ainda que haja nobres que gostem de se casar entre si, existe uma diversificação bem maior de fontes conjugais. O rei Eduardo 8º, em dezembro de 1936, abdicou do trono britânico para se unir a Wallis Simpson, uma americana duas vezes divorciada. Quem ficou no seu lugar foi George 6º, o gago retratado no filme O Discurso do Rei e pai da rainha Elizabeth. Filipe de Bourbon, filho de Juan Carlos 1º da Espanha e da rainha Sofia, casou-se em 2004 com a plebeia Letizia Ortiz. O príncipe William, filho de Charles e Diana, encontrou nos corredores da faculdade sua carametade, Kate Middleton. A outrora fechada família europeia de monarcas, de uns tempos para cá, é capaz até de aceitar em seu seio um descendente do lendário e irreverente camponês espanhol. Aquele do mosquito na boca do rei.

O Rouxinol e a Rosa


O ROUXINOL E A ROSA



Wilde, o vermelho


Oscar Wilde

Por Maria José 

_ Ela disse que dançaria comigo se eu lhe levasse rosas vermelhas – exclamou o Estudante – mas estamos no inverno e não há uma única rosa no jardim...
Por entre as folhas, do seu ninho, no carvalho, o Rouxinol o ouviu e, vendo-o ficou admirado...
_ Não há nenhuma rosa vermelha no jardim! – disse o Estudante, com os olhos cheios de lágrimas. – Ah! Como a nossa felicidade depende de pequeninas coisas! Já li tudo quanto os sábios escreveram. A filosofia não tem segredos para mim e, contudo, a falta de uma rosa vermelha é a desgraça  da minha vida.
Eis, afinal, um verdadeiro apaixonado! – disse o Rouxinol. Tenho cantado o Amor noite após noite, sem conhecê-lo no entanto; noite após noite falei dele às estrelas, e agora o vejo... O cabelo é negro como a flor do jacinto e os lábios vermelhos como a rosa que deseja; mas o amor pôs-lhe na face a palidez do marfim e o sofrimento marcou-lhe a fronte.
_ Amanhã à noite o Príncipe dá um baile, murmurou o Estudante, e a minha amada se encontrará entre os convidados. Se levar uma rosa vermelha, dançará comigo até a madrugada. Somente se lhe levar uma rosa vermelha... Ah... Como queria tê-la em meus braços, sentir-lhe a cabeça no meu ombro e a sua mão presa a minha. Não há rosa vermelha em meu jardim... e ficarei só; ela apenas passará por mim... Passará por mim... e meu coração se despedaçará.
_ Eis um verdadeiro apaixonado... – pensou o Rouxinol. – Do que eu canto, ele sofre. O que é dor para ele é alegria para mim. Grande maravilha, na verdade, é o Amar! Mais precioso que esmeraldas e mais caro que opalas finas. Pérolas e granada não podem comprá-lo, nem se oferece nos mercados. Mercadores não o vendem, nem o conferem em balanças a peso de ouro.
_ Os músicos da galeria – prosseguiu o Estudante – tocarão nos seus instrumentos de corda e, ao som de harpas e violinos, minha amada dançará. Dançará tão leve, tão ágil, que seus pés mal tocarão o assoalho e os cortesãos, com suas roupas de cores vivas, reunir-se-ão em torno dela. Mas comigo não bailará, porque não tenho uma rosa vermelha para dar-lhe... – e atirando-se à relva, ocultou nas mãos o rosto e chorou.
_ Por que está chorando? – perguntou um pequeno lagarto ao passar por ele, correndo, de rabinho levantado.
_ É mesmo! Por que será? – Indagou uma borboleta que perseguia um raio de sol.
_ Por quê? – sussurrou uma linda margarida à sua vizinha.
_ Chora por causa de uma rosa vermelha, - informou o Rouxinol.
_ Por causa de uma rosa vermelha? – exclamaram – Que coisa ridícula! E  o lagarto, que era um tanto irônico, riu à vontade.
Mas o Rouxinol compreendeu a angústia do Estudante e, silencioso, no carvalho, pôs-se a meditar sobre o mistério do Amor.
Subitamente, abriu as asas pardas e voou.
Cortou, como uma sombra, a alameda, e como uma sombra, atravessou o jardim.
Ao centro do relvado, erguia-se uma roseira. Ele a viu. Voou para ela e posou num galho.
_ Dá-me uma rosa vermelha – pediu – e eu cantarei para ti a minha mais bela canção!
_ Minhas rosas são brancas; tão brancas quanto a espuma do mar, mais brancas que a neve das montanhas. Procura minha irmã, a que enlaça o velho relógio-de-sol. Talvez te ceda o que desejas.
Então o Rouxinol voou para a roseira, que enlaçava o velho relógio-de-sol.
_ Dá-me  uma rosa vermelha – pediu – e eu te cantarei minha canção mais linda.
A roseira sacudiu-se levemente.
_ Minhas rosas são amarelas como as cabelos dourados das donzelas, ainda mais amarelas que o trigo que cobre os campos antes da chegada de quem o vai ceifar. Procura a minha irmã, a que vive sob a janela do Estudante. Talvez ela possa te possa ajudar.
O Rouxinol então, dirigiu o vôo para  a roseira que crescia sob a janela do Estudante.
_ Dá-me uma rosa vermelha – pediu - e eu te cantarei a mais linda de minhas canções.
A roseira sacudiu-se levemente.
_ Minhas rosas são vermelhas, tão vermelhas quanto os pés das pombas, mais vermelhas que os grandes leques de coral que oscilam nos abismos profundos do oceano. Contudo, o inverno regelou-me até as veias, a geada queimou-me os botões e a tempestade quebrou-me os galhos. Não darei rosas este ano.
_ Eu só quero uma rosa vermelha, repetiu o Rouxinol, - uma só rosa vermelha. Não haverá meio de obtê-la?
_ Há, respondeu  a Roseira, mas é meio tão terrível que não ouso revelar-te.
_ Dize. Não tenho medo.
_ Se queres uma rosa vermelha, explicou a roseira, hás de fazê-la de música, ao luar, tingi-la com o sangue de teu coração. Tens de cantar para mim com o peito junto a um espinho. Cantarás toda a noite para mim e o espinho deve ferir teu coração e teu sangue de vida deve infiltrar-se em minhas veias e tornar-se meu.
_ A morte é um preço exagerado para uma rosa vermelha – exclamou o Rouxinol – e a Vida é preciosa... É tão bom voar, através da mata verde e contemplar o sol  em seu esplendor dourado e a lua em seu carro de pérola...O aroma do espinheiro é suave, e suaves são as campânulas ocultas no vale, e as urzes tremulantes na colina. Mas o Amor é melhor que a Vida. E que vale o coração de  um pássaro comparado ao coração de um homem?
Abriu as asas pardas para o vôo e ergueu-se no ar. Passou pelo jardim como uma sombra e, como uma sombra, atravessou a alameda.
O Estudante estava deitado na relva, no mesmo ponto em que o deixara, com os lindos olhos inundados de lágrimas.
_ Rejubila-te – gritou-lhe o Rouxinol – Rejubila-te; terás a tua rosa vermelha. Vou fazê-la de música, ao luar. O sangue de meu coração a tingirá. Em conseqüência só te peço que sejas sempre verdadeiro amante, porque o Amor é mais sábio do que a Filosofia; mais poderoso que o poder.. Tem as asas da cor da chama e da cor da chama tem o corpo. Há doçura de mel em seus braços e seu hálito lembra o incenso.
O Estudante ergueu a cabeça e escutou. Nada pode entender, porém, do que dizia o Rouxinol, pois sabia apenas o que está escrito nos livros.
Mas o Carvalho entendeu e ficou melancólico, porque amava muito o pássaro que construíra ninho em seus ramos.
_ Canta-me um derradeiro canto – segredou-lhe – sentir-me-ei tão só depois da tua partida.
Então o Rouxinol cantou para o Carvalho, e sua voz fazia lembrar a água a borbulhar de uma jarra de prata.
Quando o canto finalizou, o Estudante levantou-se, tirando do bolso um caderninho de notas e um lápis.
_ Tem classe, não se pode negar – disse consigo – atravessando a alameda. Mas terá sentimento? Não creio. É igual a maioria dos artistas. Só estilo, sinceridade nenhuma. Incapaz de sacrificar-se por outrem. Só pensa e cantar e bem sabemos quanto a Arte é egoísta. No entanto, é forçoso confessar, possui maravilhosas notas na voz. Que  pena não terem significação alguma, nem realizarem nada realmente bom!
Foi para o quarto, deitou-se e, pensando na amada, adormeceu.
Quando a lua refulgia no céu, o Rouxinol voou para a Roseira e apoiou o peito contra o espinho. Cantou a noite inteira e o espinho mais e mais foi se enterrando em seu peito, e o sangue de sua vida lentamente se escoou...
Primeiro descreveu o nascimento do amor no coração de um menino e uma menina; e, no mais alto galho da Roseira, uma flor desabrochou, extraordinária, pétala por pétala, acompanhando um canto e outro canto. Era pálida, a princípio, qual a névoa que esconde o rio, pálida qual os  pés da manhã e as asas da alvorada. Como sombra de rosa num espelho de prata, como sombra de rosa em água de lagoa era a rosa que apareceu no mais alto galho da Roseira.
Mas a Roseira pediu ao Rouxinol que se unisse mais ao espinho. – Mais ainda, Rouxinol, - exigiu a Roseira, - senão o dia raia antes que eu acabe a rosa.
O Rouxinol então apertou ainda mais o espinho junto ao peito, e cada vez mais profundo lhe saía o canto porque ele cantava o nascer da paixão na alma do homem e da mulher.
E tênue nuance rosa nacarou as pétalas, igual ao rubor que invade a face do noivo quando beija a noiva nos lábios.
Mas o espinho não lhe alcançava ainda o coração e o coração da flor continuava branco – pois somente o coração de um Rouxinol pode avermelhar o coração de rosa.
_ Mais ainda, Rouxinol, - clamou a Roseira – raiar o dia antes que eu finalize a rosa.
E o Rouxinol, desesperado, calcou-se mais forte no espinho, e o espinho lhe feriu o coração, e uma punhalada de dor o traspassou.
Amarga, amarga lhe foi a angústia e cada vez mais fremente foi o canto, porque ele cantava o amor que a morte aperfeiçoa, o amor que não morre nem no túmulo.
E a rosa maravilhosa tornou-se purpurina como a rosa do céu oriental. Suas pétalas ficaram rubras e, vermelho como um rubi, seu coração.
Mas a voz do Rouxinol se foi enfraquecendo, as pequeninas asas começaram a estremecer e uma névoa cobriu-lhe o olhar, o canto tornou-se débil e ele sentiu qualquer coisa apertar-lhe a garganta.
Então, arrancou do peito o derradeiro grito musical.
Ouviu-o a lua branca, esqueceu-se da Aurora e permaneceu no céu.
A rosa vermelha o ouviu, e trêmula de emoção, abriu-se à aragem fria da manhã. Transportou-o o Eco, à sua caverna purpurina, nos montes, despertando os pastores de seus sonhos. E ele levou-os através dos caniços dos rios e eles transmitiram sua mensagem ao mar.
_ Olha! Olha! Exclamou a Roseira. – A rosa está pronta, agora.
Ao meio dia o Estudante abriu a janela e olhou.
_ Que sorte! – disse – Uma rosa vermelha! Nunca vi rosa igual em toda a minha vida. É tão linda que tem certamente um nome complicado em latim. E curvou-se para colhê-la.
Depois, pondo o chapéu, correu à casa do professor.
_ Disseste que dançarias comigo se eu te trouxesse uma rosa vermelha, - lembrou o Estudante. – Aqui tens a rosa mais linda e vermelha de todo o mundo. Hás de usá-la, hoje a noite, sobre ao coração, e quando dançarmos juntos ela te dirá o quanto te amo.
A moça franziu a testa.
_ Esta rosa não combina com o meu vestido, disse. Ademais, o Capitão da Guarda mandou-me jóias verdadeiras, e jóias, todos sabem, custam muito mais do que flores...
_ És muito ingrata! – exclamou o Estudante, zangado. E atirou a rosa a sarjeta, onde a roda de um carro a esmagou.
_ Sou ingrata? E o senhor não passa de um grosseirão. E, afinal de contas, quem és? Um simples estudante... não acredito que tenhas fivelas de prata, nos sapatos, como as tem o Capitão da Guarda... – e a moça levantou-se e entrou em casa.
_ Que coisa imbecil, o Amor! – Resmungou o estudante, afastando-se. – Nem vale a utilidade da Lógica, porque não prova nada, está sempre prometendo o que não cumpre e fazendo acreditar em mentiras. Nada tem de prático e como neste século o que vale é a prática, volto à Filosofia e vou estudar metafísica.
Retornou ao quarto, tirou da estante um livro empoeirado e pôs-se a ler...

Versão em português: Lázaro Curvêlo Chaves - julho de 2005

sábado, 28 de abril de 2012

Veja a história do judeu polonês que sobreviveu a sete campos de concentração


Judeu polonês sobreviveu a sete campos de concentração nazistas em quatro países. 
Conheceu Stalin, virou paraquedista e instrutor militar em Israel e acabou imigrando para o Rio de Janeiro, onde foi taxista até dois anos atrás.

Flávia Ribeiro | 25/04/2012 12h37

"É cobra. Pode jogar no bicho que dá cobra", diz, com um sorriso largo, o taxista aposentado Alexander Liberman sobre o número marcado em seu antebraço esquerdo: A18.534. O bom humor certamente o ajudou a chegar aos 80 anos e não dá pistas do que a vida lhe reservou até aqui. Aos 9 anos, levou um tiro e passou por sete campos de concentração na Polônia, Alemanha, Áustria e Bósnia. Perdeu pai, mãe e três irmãos, mortos pelos nazistas. Com o fim da Segunda Guerra, foi levado para a Rússia e conheceu Josef Stalin. Soldados soviéticos ficaram tão impressionados com seu precário estado de saúde que decidiram mostrá-lo ao ditador. Em 1947, embarcou no navio Exodus para Israel, que levava ilegalmente refugiados judeus, mas acabou preso na ilha de Chipre após confrontar tropas inglesas que interceptaram o navio. Mais tarde, já sargento do Exército israelense, foi atingido por estilhaços de duas granadas durante a Guerra de Independência do país. Uma delas o deixou surdo de um ouvido. Tudo isso até os 21 anos de idade.


                                                         Foto: Marcos Pinto

Aos 25, veio para o Brasil, onde foi motorista de táxi até cerca de dois anos atrás nas ruas do Rio de Janeiro. E só recentemente ganhou coragem para contar sua história: "Antes eu me revoltava... Agora conto porque já estou no final... É lógico que me emociono lembrando, já tive muito pesadelo com isso. Mas não tenho mais. O que tinha que passar, passei. Perdi tanta coisa na minha vida... Mas agora estou tranquilo."

Como era sua vida antes da guerra?

Tive uma infância tranquila até os 9 anos. Meu pai era comerciante de material de sapateiro, com meu tio. Nasci na Polônia, em 1930. Eu tinha três irmãos: um de 7 anos, uma de 3 e uma bebê de 6 meses.

O que houve com sua família após a invasão da Polônia, em 1939?

Os alemães logo caíram em cima dos judeus. Primeiro, foram à loja e levaram meu pai e meu tio para Treblinka. Soubemos que os dois foram mortos na guilhotina lá. A gente se escondeu no forro de casa por dois meses, vivendo do que havia na cozinha. Fomos descobertos, nos levaram para um polígono da cidade e botaram a gente na fila para morrer. Vi pessoas sendo fuziladas. Aí pegaram minha irmãzinha de 6 meses, jogaram para o alto e atiraram, como se fosse uma brincadeirinha. Gritei na hora para minha mãe: "Vou fugir. Não vou dar minha cabeça!" Fugi, me desviando das balas, mas uma pegou aqui (mostra uma cicatriz no abdômen). Consegui sumir na floresta que havia ali perto.

Alguém da sua família sobreviveu?

Não sei quando morreram. Não achei nada. Mas morreram, ou eu teria achado. Procurei, mas nunca tive notícia. Descobri um tio em Israel. Depois, achei uma tia na Argentina e um tio no Uruguai.

E o tiro no abdômen?

Essa bala não caiu num lugar para me matar, né? Encontrei seis ou sete pessoas escondidas na floresta. Tinha que entrar naquele grupo que estava lutando com os alemães. Eu era o mais novo, mas era bem desenvolvido e acharam que eu podia ajudar em alguma coisa. Arrumamos gaze e iodo para o ferimento. E não inflamou.

Como era a vida na floresta?

Vivíamos em cima das árvores para não sermos vistos. Os outros tinham fuzis. Me arranjaram um revólver pequeno e me ensinaram a atirar. Fiquei uns dois meses com esse grupo. Éramos partisans. Íamos às casas próximas pegar comida, mas não tinha muito. Uma vez me mandaram à cidade comprar comida, achando que, porque eu era criança, não desconfiariam de mim. Quando eu estava saindo da loja, dois soldados me viram e perguntaram: "Você é judeu?" Eu disse que não, mas me levaram para um quarto e abaixaram minha calça. Fui levado para um campo de trabalho em Budzyn, onde plantávamos batatas. Fui escolhido várias vezes para morrer, mas me escondia nos barracões lotados. No dia seguinte, saía para trabalhar normalmente. Alguns meninos conseguiram se esconder, outros foram achados e morreram. Passei por sete campos de concentração. Em alguns, fiquei só um período de quarentena antes de ser mandado para o que deveria ficar mesmo. Com a guerra já braba, os russos se aproximaram e os alemães levaram a gente para o campo de Majdanek, com sete câmaras de gás. Os nazistas me escolheram para arrancar os dentes de ouro dos judeus mortos usando alicates. Tinha gente que sobrevivia e pedia: "Arranca os dentes, mas não conta que estou vivo!" Tirei dentes de ouro de pessoas vivas. Não doía, não gritavam. Depois, fomos levados embora, a pé.

Quando?

Eu não sabia mais do tempo. Sabia que estava no galinheiro com as outras galinhas e que precisava arranjar um jeito de sobreviver. A guerra é uma confusão danada.

Como o senhor lidava com tudo isso?

Só pensava em viver. Vi um tio morrer e não chorei. Encontrei o irmão do meu pai num dos campos - morreu de tifo. Não dava tempo de chorar. Chorei uma só vez, quando fui pego, aos 9 anos. Achava que ia morrer, mas nunca pensei em entregar os pontos.

Mas o senhor não sentia revolta?

Claro! Quando pedi ajuda a Deus, não fui atendido. Eu disse então: "Sou ateu!" E eu me revoltava comigo mesmo por ter nascido judeu. Se eu não fosse judeu, não estaria passando por tudo aquilo. Era o que eu pensava. Perdi tanta coisa na vida... e era uma criança. Eu não entendia.

E depois de Majdanek?

Fui levado para Birkenau, em Auschwitz. Foi lá que me marcaram, botaram o número no meu braço: A18.534. Pode jogar no bicho que dá cobra! Foi um dos campos em que estive de passagem. Lá me ensinaram a ser ferramenteiro. Para não morrer, tinha vontade de aprender tudo. Me levaram para trabalhar numa fábrica de aviões e canhões. Fui para um lugar chamado Laurahütte (um subcampo do complexo Auschwitz-Birkenau). O engenheiro de lá gostava do meu serviço, tinha pena de mim e me dava, escondido, uns sanduíches. Mas os americanos se aproximaram e tive de me mudar de novo. Fomos para vagões de trem superlotados. Levaram a gente para Mauthausen-Gusen (Áustria) e depois para Dachau (Alemanha). Ficamos também pouco tempo. De lá, fomos para o campo de Gradiska (Bósnia). Quando cheguei, em 1945, eu já estava tão magro que parecia um esqueleto vivo. Estava com 14 anos e com tifo, mas eu ainda não sabia.

Como foi sua libertação?

Os russos chegaram e libertaram o campo (em 23 de abril de 1945). Eles me viram daquele jeito, ficaram impressionados por eu estar vivo e disseram: "Temos de mostrar esse aqui para alguém!" Então me limparam e me botaram num avião para Moscou. Me levaram ao Kremlin. Encontrei Stalin e ele me perguntou se eu sabia falar russo. Eu falava um pouquinho. Stalin me disse que eu seria bem tratado e mandou me botarem num internato em Moscou. Eu estava muito fraco e tinha um grupo de garotos vagabundos. Eu estava com uma roupa boa, que os russos me deram. Quando dormi, veio um mais forte e levou minha roupa. O que eu ia fazer? Roubei a roupa de um menino ainda mais fraco e fui embora. Achei a Cruz Vermelha e pedi para ir para a Polônia.

O senhor conseguiu?

Voltei, mas estava muito fraco. Estava bem doente, com febre e manchas no corpo: era tifo. Fiquei meses no hospital. Quando saí da cama, não conseguia andar. Chegou um avião dos Estados Unidos para levar uma turma para lá, mas eu não quis ir.

Por que não?

Tinha medo de que me matassem. Queria ir para Israel, mas acabei indo para a Alemanha. Me levaram para um internato para sobreviventes de guerra em Landsberg am Lech, onde fiquei dois anos. Já tinha um grupo de Israel lá, o Haganah Palmach (uma milícia). Aprendi hebraico - antes, falava polonês, alemão, iídiche e um pouco de russo. Fizemos treinamento de táticas de guerra. Em 1947, eu estava com 16 anos, chegou o Exodus (navio que levava refugiados para Israel). Eu queria ficar com os que sofreram como eu. Não queria me afastar dos judeus. Sabíamos que iríamos lutar lá e já tínhamos aprendido a lutar na Alemanha. Já tivemos que lutar no navio, com os ingleses (em 1947, a Inglaterra proibiu a imigração clandestina para Israel. O Exodus, com 4515 sobreviventes do Holocausto, foi o primeiro navio a receber a ordem marítima policial, em 18 de julho. Houve combate a bordo e três pessoas morreram). Fui mandado para uma prisão no Chipre, onde fiquei uns dois meses. Primeiro tentei fugir dentro de um caminhão de lixo, mas me pegaram. Com 17 anos, fui solto e consegui ir para Israel. Fui direto para um kibutz trabalhar na terra e aprender coisas do Exército. No Exército, fui treinador de recrutas e paraquedista. Lutamos contra os árabes, participei da Batalha do Egito. Isso foi em 1948, por aí. A gente libertou Israel. Fiquei nas Forças Armadas até 1951.

Como foi sua participação na guerra?

Saltei de paraquedas em lugares perigosos. Uma vez, nosso helicóptero desceu no deserto de Negev. Teve tiroteio e fui atingido, atrás da orelha esquerda, por estilhaços de uma granada. Fiquei três meses no hospital e sou surdo desse ouvido. Também tenho uma cicatriz na perna direita por causa de outra granada. Em Israel, me casei. Tenho duas filhas lá, seis netos e sete bisnetos. Trabalhei em construção, em muita coisa.

Por que o senhor veio para o Brasil?

Eu achava que tinha direito a alguma coisa lá (uma indenização), mas eu não tinha pistolão. Pensei: "Depois de tudo o que eu fiz, ainda preciso de pistolão?" Aí me aborreci, quis ir embora, em 1958. Vim com uns amigos. Depois, minha mulher veio com minhas filhas, uma com 3 anos e a outra com uns 9 meses. Moramos em Ramos (no Rio de Janeiro), mas ela não aguentou a umidade. Tinha bronquite, quis voltar para Israel. Mas eu não podia, né? Trabalhava como vendedor.

O que o senhor fez aqui?

Eu não falava português. Vendia roupas de porta em porta lendo um texto. Me naturalizei brasileiro em 1963. Tive uma loja de modas em Ipanema, depois um salão de cabeleireiro e uma butique na Gávea. Nessa época, arranjei uma úlcera. O doutor Gazzola, um médico que alugava um quarto na minha casa quando era estudante, me operou. Nessa operação, ele tirou aquela bala do abdômen! Depois, a butique não andava bem. Comecei a trabalhar como motorista de táxi nos anos 1960 e foi assim até dois anos atrás. Uma vez, fui sequestrado. Me deram uma injeção de gasolina, me roubaram, mas não levaram o táxi. Isso foi há uns 30 anos. Outra vez, escapei de um assalto no Flamengo me jogando debaixo do carro. Hoje, tem uma pessoa que dirige meu táxi. Recebo uma indenização dos alemães, uma mixaria, e outra mixaria de aposentadoria. Mas me casei de novo aqui (com a católica Lenice, 60 anos), tive dois filhos: o Anderson (engenheiro, 30) e a Alexandra (designer, 25).

O senhor tem algum contato com suas filhas em Israel?

Eu não tinha nenhum contato. Ela (aponta para Alexandra) é que achou minhas filhas e foi à casa delas lá. Quando elas saíram daqui, tentei me comunicar, mas não consegui. Fui ao consulado, pedia ajuda a quem ia para Israel e nada. Falei com minhas filhas (Hedva, 55 anos, e Yocheved, 53) por telefone. Fico feliz de saber que estão bem. Um dos meus netos já veio me visitar (Alexandra explica que, na verdade, foram elas que os encontraram com a ajuda do Museu do Holocausto de Washington).

Por que o senhor demorou tanto para contar sua história?
No táxi, jornalistas viam esse número no meu braço e queriam que eu contasse a minha vida. Mas o meu advogado, na época, achava melhor não para não atrapalhar as coisas com a indenização dos alemães. E antes eu não conseguia nem contar porque me revoltava. Agora conto porque já estou no final... Lógico que me emociono lembrando, já tive muito pesadelo com isso. Mas não tenho mais. O que tinha que passar, passei. Perdi tanta coisa na minha vida... Agora estou tranquilo.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Merecida Mente...



insidiosa mente
se movi mente
nervosa mente
expectante
de palavras
em papel                                                         
procura                                                
saber
se                                                                                                                           
.
engaja gente
im pertinente
que frequente mente
mente
descarada mente
mente
procurada mente
mas não engana
a gente
.
quem mente
desespera da mente
e aguarda
sofrendo
merecida mente

quinta-feira, 26 de abril de 2012

pina



Posso afirma que não conhecia muito do trabalho da amada coreógrafa alemã Pina Bausch, cujo trabalho é diferente de tudo que já havia visto. Já tinha ouvido falar dela mas quando assistir  ao longa PINA fiquei encantado pois seu trabalho incorpora de maneira brilhante terra, água, rochas e as ruas da cidade, tudo com música e movimentos brilhantes. Wim Wenders, diretor do filme, parece ser um dos grandes apreciadores de Pina, que descobriu que tinha cancêr e morreu pouco antes do início das filmagens.
Talvez o ideal fosse que a voz dela permeasse o documentário, mas ao invés disso parece cercar o vazio que ficou com sua ausência. Da sua presença, ficou apenas algumas filmagens antigas. Para manter essa presença mais forte, ficam as memórias dos dançarinos que trabalhavam com ela. São esses comentários que nos fazem perceber a extensão da “adoração” por essa mulher. Sempre que se ouve sobre ela, as vozes parecem vir em forma de reverência. Até mesmo podemos sentir que ela morreu pouco antes pelo lamento e dor com que falam.
Claro que não os vemos realmente falar. Wenders se utiliza de uma tática muito mais sutil. Ele dá closes nos rostos dos bailarinos enquanto ouvimos suas vozes, em alemão, inglês, francês e até mesmo em português, dependendo da nacionalidade do entrevistado. Como se fossem um pensamento talvez. E cada um deles reage de forma diferente, uns olham para a câmera, outros parecem procurar um ponto distante.
Difícil e descrever as danças que vemos nas telas. Posso descrever o que vi, mas não consigo explicar o que senti. São quatro coreografias diferentes que se intercalam durante o filme. Nenhuma parece ir do início ao fim. Uma delas, a que achei a mais envolvente, "Cafe Mueller", foi usada por Almodovar no filme Fale com ela.
O interressante que a câmera esta sempre posicionada entre os dançarinos de forma a inserir o público dentro de tudo que está acontecendo no palco. Para maximizar o efeito, algumas vezes ele até mesmo coloca a câmera fazendo o ponto de vista de um deles.  Simplesmente fantástico!
O efeito é muito interessante, mas me levanta uma questão: será que Pina aprovaria esse tipo de filmagem? Quando alguém cria uma coreografia, o faz pensando em um único ponto de vista: o da audiência. O que acharia da imersão da platéia, coisa que não deve ter pensado enquanto criava sua arte? Infelizmente não saberemos.
O que nos resta agora é observar a homenagem. Todos os dançarinos dançaram todas as coreografias inúmeras vezes. A diferença é que todas as vezes foram junto com Pina, pela primeira vez eles tem que dançar por conta própria. Uma bela homenagem. O longa esta mais que recomendado!

Tempo...





Falta tempo... saudade no blog esse e o 2º Post de Abril. Mas falta tempo mesmo sei que sim mas as coisas andam todas no automático. Vamos rever isso.
Quantas vezes ouvimos ou falamos Nossa já estamos no fim do mês de abril, daqui a pouco estamos no meio do ano, já, já é Natal e depois 2013...
O tempo está passando muito rápido.
Ou será que andamos levando nossas vidas de forma muito inconsciente?
No nosso inconsciente é onde fica nossos atos mecânicos, onde não implica os sentimentos. Os sentimentos estão ligados ao nosso consciente.
Ou seja, quanto mais colocamos nossa vida, nosso dia a dia no piloto automático, estamos vivendo de forma inconsciente, deixando de lado nossas emoções, nossos sentimentos.
Por exemplo, preparar um almoço, quando fazemos isso de forma automática, o arroz precisa de água e sal para ser cozido, a carne de tal e tal tempero, quando finalizamos realmente parece que não nos percebemos nesse momento, não nos percebemos preparando o almoço. Tanto que muitas vezes nos vemos no seguinte impasse: coloquei ou não coloquei sal no arroz? Ops...
O que acontece muito comigo e não me perceber em um determinado trajeto do meu dia a dia,  perceber  que preciso ir a tal farmácia em tal rua, quando eu chego lá me dá um estalo e eu penso: nossa! cheguei até aqui e não me recordo de como percorri o trajeto, se eu prestei atenção no semáforo, se encontrei com alguém conhecido. Fazendo tudo isso de modo inconsciente.
Não parece que dessa forma estamos deixando de viver? Ligamos o piloto automático e pronto?
Por isso achamos que o tempo anda passando muito rápido, não estamos "sentindo" o tempo passar, estamos vivos porem não estamos vivendo, não estamos colocando emoções em nossas vidas, no nosso trabalho, em nossos relacionamentos.
A rotina é importante sim em nossas vidas, mas não devemos de deixar de colocar sentimentos nela como alegria, esperança, ânimo. Não podemos de deixar de nos envolvermos nesse viver. Assim nos sentiremos mais vivos e vamos sentir cada dia se passando, do início ao fim. Da mesma maneira que não acharemos mais que os dias estão passando muito acelerado.
Sei que essa tarefa não é descomplicado, até arrisco a dizer que agimos dessa forma com o intuito de nos tutelar, mais um dos nossos mecanismos de defesa, não me envolvo não corro o risco de me machucar mas não irei ter alegrias e as emoções que todo envolvimento nos traz.
 Tudo isso vai ao encontro  de muitos ensinamentos, que tanto falam da necessidade de estarmos presente, se eu estiver lavando louça perceber isso, prestar atenção na água, na quantidade de detergente que estou usando, se o prato ficou bem limpo ou não e não divagar nesse momento pelo contrário colocarmos toda nossa atenção, nosso consciente nesse momento e nessa tarefa.
Quem sabe assim não passaríamos a achar que o tempo passa na exata forma que deve passar?

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Momentos...

Oscar Wilde

"Há momentos em que é preciso escolher entre viver a sua própria vida plenamente, inteiramente, completamente, ou assumir a existência degradante, ignóbil e falsa que o mundo, na sua hipocrisia, nos impõe"