Pode estranhar a primeira vista a separação entre história mundial e a história do século XX, mas esse foi o século, de longe, com maior material humano e que exerce maior influência direta na vida cotidiana, até porque ele acabou há apenas 9 anos. E nele ocorreram duas guerras mundiais, a ascensão e queda dos países comunistas, a maior crise econômica mundial, o ressurgimento do fundamentalismo islâmico, a bipolarização do mundo, a luta pelos direitos femininos, o uso do petróleo como matriz energética predominante no mundo, além da popularização do cinema, da televisão, do computador e das competições esportivas internacionais.
A primeira metade do século foi marcada pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918), seguida pela Revolução Russa (1917), passando pelo momento mais negro do capitalismo mundial, a quebra da bolsa de Nova Iorque (1929), culminando na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), conflito que envolveu diretamente a quase totalidade dos países. A partir do fim da Segunda G.M., conheceu-se uma nova ordem mundial, o mundo bipolarizado. As divisões das áreas geográficas de influência do bloco soviético e do bloco estadunidense foram institucionalizadas pelo tratado de Potsdam (1945), assinados por Truman, Stalin e Churchull, então chefes de estado dos EUA, União Soviética e Inglaterra, respectivamente. A esta parte de Era dos extremos faz parte também a corrida armamentista e tecnologica entre as duas potências antagônicas. A bipolaridade regeu as relações internacionais e o mundo conheceu uma verdadeira revolução científica e tecnológica, fomentada pela competição entre as economias comunista e capitalista. A China passou por sua Revolução sob o comando de Mao Zedong, tornando-se uma nova potência comunista. Antes alinhada com o bloco soviético e, posteriormente, passando para a esfera de influência estadunidense, apos a cisão sino-soviética (1959).A ordem bipolar permaneceu até a queda do bloco soviético, incapaz de manter sua economia com os altos gastos provenientes da corrida armamentista. Os momentos finais da ordem bipolar foram simbolizados pela queda do muro de Berlim (1989) e o fim da União Soviética (1991). A hegenomia capitalista passa a dominar o mundo de fins de século XX. Em toda sua obra, Hobsbawm aborda, além dos grandes eventos históricos, a evolução dos costumes da sociedade, os movimentos culturais e também a trajetoria historica de paises chamados periféricos, na África e na América do Sul.
O livro passa por questões mais esperadas em livros do gênero, como o Massacre da Praça Celestial, a Guerra do Vietnã e a Questão dos Mísseis em Cuba, mas também aborda assuntos inesperados, como alimentação, contracultura, a difusão das línguas globais. E o diferencial é que o autor, no lugar de criar um panorama estático com os principais acontecimentos e situações do século, se preocupa em aglutinar todos os assuntos e sequencia-lós, para que possamos ter uma idéia de como as pessoas da época enxergavam o próprio século. Como? Ele compara o número de pessoas e a urbanização de 1900 com a de 1960, por exemplo. Por meio de comparações e usando os assuntos do próprio livro, aqui se faz um bom resumo do século. Claro que, como é dito no título, não passa de uma breve história e que em alguns assuntos, como direitos feministas, Oriente Médio e ascensão comunista no Leste Asiático é necessário um aprofundamento para realmente se entender algo. Mas é um excelente livro de divulgação histórica, justamente por colocar os assuntos por alto para que o leitor curioso possa procurar pelo que chamou sua atenção e por apresentar linguagem simples. O que faltou? Uma lista de bibliografia indicada para satisfazer nossa curiosidade.
Em “Uma Breve História do Século XX”, Blainey aborda as duas grandes guerras, a ascensão e a queda dos regimes comunistas, o maior colapso econômico já vivido, o declínio das monarquias e dos grandes impérios da Europa.
* No início do século, havia um clima de otimismo na civilização ocidental em relação ao seu futuro, incluindo questões referentes a tecnologia, conflitos internacionais e desenvolvimento sócio-econômico. Esse clima foi duramente abalado pelas duas guerras mundiais e pela crise de 1929 e, desde então, os movimentos intelectuais ocidentais são fundamentados pelo ceticismo em relação as suas tradições e culturas.
* O resultado da Primeira Guerra Mundial foi conseqüência da produtividade industrial dos países envolvidos. Os aliados dos Estados Unidos ganharam a guerra, porque esse país era o mais produtivo. Mas, se os Estados Unidos tivessem mantido neutralidade, a Alemanha teria vencido a França e a Inglaterra, já que é mais produtiva.
* O Estado hebraico na Palestina começou a ser formado em novembro de 1917, enquanto a região era colônia britânica, como um agradecimento do governo desse país aos judeus russos aos seus esforços na Primeira Guerra, e uma proteção a perseguições por parte da Revolução Bolchevique.
* As metrópoles só tinham a enriquecer com o comércio com suas colônias, já que importavam bens primários e exportavam bens industrializados, de maior valor agregado. Certo? Errado! A maioria das colônias fora implantada com interesse puramente de estratégia militar, com pouca produtividade econômica, e o colonialismo teve o efeito de enfraquecer economicamente (já que implicava em custos burocráticos e de defesa) e militarmente (por espalhar as tropas dos países pelo globo) as maiores potências européias, França e Inglaterra, em relação aos emergentes Estados Unidos e Alemanha.
* A reforma agrária instituída por Stalin na União Soviética, por abolir o lucro do agricultor, desincentivou a eficiência da produção. Resultado: 10 milhões de mortos de fome, só no início da década de 1930.
* O pai de Mussolini era socialista. Sua mãe era católica devota, conservadora e tradicionalista. O fascismo foi uma mistura dessas duas ideologias (!).
* O resultado da Segunda Guerra Mundial foi decidido por duas decisões equivocadas. Primeiro, de Hitler exterminar os judeus e demais grupos capturados, ao invés de explorar sua mão-de-obra qualificada em trabalhos forçados. Segundo, do Japão bombardear Pearl Harbor, ao invés de invadir a União Soviética pelo leste.
* Israel venceu a guerra de 1948 contra seus vizinhos árabes com o apoio dos.. países comunistas europeus! O alinhamento com os Estados Unidos, assim como o alinhamento do Egito com a União Soviética só ocorreria mais tarde.
* A revolução cubana teve, em seu início, uma ideologia nacionalista. Porém, após o confisco de propriedades norte-americanas no país, e a conseqüente e lógica retaliação, Cuba acabou se tornando dependente da União Soviética, e teve que adequar o seu regime político para isso.
* Em 1967, o governo egípcio estatizou o canal de Suez, até então o principal acesso do petróleo árabe ao Ocidente. Isso incentivou mudanças tecnológocicas no setor de transporte marítimo de óleo: os navios tornaram-se maiores, para agüentar a rota marítima alternativa (pelo Cabo da Boa Esperança, na África). Quando o canal foi reaberto, 8 anos depois, os navios eram tão grandes que não passavam por ele, e sua importância para a economia mundial foi muito abalada.
* A revolução comportamental dos jovens de 1968 foi provocada principalmente pelo progresso econômico. O crescimento da renda das famílias no período pós-guerra permitiu que os filhos mais velhos mantivessem parte de seus rendimentos para consumo pessoal, além de contribuir com o sustento familiar, e isso revolucionou o mercado de entretenimento.
Trecho do livro:
“Os satélites ficavam cada vez melhores. A cerimônia de abertura das Olímpiadas de Tóquio, em 1964, foi transmitida ao vivo para Europa e América do Norte. No ano seguinte, o incrível satélite Early Bird enviou sua primeira mensagem. Logo começou a transmitir imagens de uma guerra em que muitas tropas norte-americanas se consumiram. Os episódios diários das batalhas na selva, filmados no Vietnã e vistos na noite seguinte em milhões de lares norte-americanos, impulsionaram o movimento pacifista. Em Nova York, um crítico de TV rotulou o conflito no Vietnã de ‘guerra de sala de estar’. A força da televisão aumentou graças às imagens em cores, primeiramente veiculadas nos Estados Unidos e Japão.
A televisão invadiu quase todas as nações, incrementando ou modificando a maior parte das facetas da vida cotidiana: lazer, esportes, música, religião, política, notícias, culinária, publicidade, moralidade, brincadeiras de criança e até mesmo o modo de falar e a gramática. Sir David Frost observou: ‘A televisão permite que você se entretenha, na sala de estar, com pessoas que jamais permitiria que entrassem na sua casa’.”
. Geoffrey Norman Blainey AC(1930-) é um escritor, professor e historiador australiano e leciona nas universidades de Harvard e Melbourne. Já foi agraciado com a Companhia da Ordem da Austrália(por isso o AC do lado do seu nome) e com o International Britannica Award por seu trabalho na divulgação do conhecimento histórico. Seu livros mais famosos, são Uma Breve História do Mundo e Uma Breve História do Século XX.
Hobsbawm? Não entendi...
ResponderExcluirHobsbawm? Não entendi...
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