A polícia brasileira surgiu em 13 de maio de 1809 no Rio de Janeiro, por ordem do príncipe regente D. João, que havia chegado à cidade um ano antes com toda a sua comitiva, todos fugidos das tropas francesas de Napoleão Bonaparte.
Antes dela, cujo nome oficial era Guarda Real de Polícia, a ordem pública era mantida principalmente por guardas civis desarmados, contratados pelo Conselho Municipal. Somente em casos de tumultos maiores era pedido o apoio de destacamentos do Exército e unidades das milícias denominadas ordenanças. Isso nas capitais e nas cidades importantes, pois no interior e nas zonas rurais quem mantinha a ordem mesmo era o coronel e seus capangas.
Com a Guarda Real, subordinada à também recém-criada Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil, surgia uma força policial de tempo integral, com organização militar e ampla autoridade. Os oficiais e soldados da primeira polícia vinham do Exército e recebiam apenas um pagamento simbólico, além de uniforme, alojamento e comida.
A Guarda Real ficaria famosa nos seus primeiros anos graças à figura do major Miguel Nunes Vidigal, que chegaria a segundo-comandante da unidade. Seu alvo principal eram as batucadas que aconteciam nos arredores do centro da cidade e dos quais participavam “pessoas comuns, na maioria escravos, que confraternizavam, bebiam cachaça e dançavam ao som de música afro-brasileiras até tarde da noite”.
Vidigal escolhia seus comandados pelo tamanho e truculência e gostava de usar nas suas rondas um chicote de haste longa e pesada, com tiras de couro cru na extremidade. Os vagos procedimentos legais não eram nem de longe seguidos pelas guarnições do major, que quando chegavam numa batucada também batiam, e muito, em quem encontrassem pela frente.
A imensa maioria das prisões executadas por Vidigal era de negros, incluindo aí os escravos fugidos, o que mereceu o comentário do comerciante inglês John Luccock de que “as leis eram tão imperfeitas ou tão imperfeitamente executadas que parece que os brancos aos poucos se haviam convencido de que estavam acima delas”.
Vidigal e seus comandados também faziam incursões aos quilombos nos arredores do centro da cidade, como o de Santa Teresa, em 19 de setembro de 1823. No dia seguinte, Vidigal entrou na cidade com toda a pompa, “montando um garanhão empinado, À frente de uma coluna de mais de 200 prisioneiros seminus capturados na incursão, entre homens, mulheres e crianças, muitos deles usando colares de conchas marinhas e decorações de penas que sugeriam elementos da cultura africana”.
Os métodos de Vidigal, pelo visto, agradavam aos detentores do poder, tanto que em 1820 ele recebeu dos monges beneditinos um terreno aos pés do morro Dois Irmãos, que nos anos 40 seria ocupado por uma favela que existe até hoje com o nome do major.
Vidigal chegaria a general do exército em 1822, no ano da independência, recebendo a Ordem do Cruzeiro do Sul do imperador D. Pedro I, e se aposentou como marechal-de-campo em novembro de 1824.
Qualquer semelhança com os tempos atuais não é mera coincidência,realmente não mudou quase nada desde aquela época...
Acho que vamos ter que continuar gritando "Chame o ladrão! Chame o ladrão!" rs... . Ironia do destino aquela que aguardava o nome e as posses do Major.
Ao Funk que com novos gostos e maneiras surgiu por aqui nos batuques que odiava plantou a semente que floresceria na sombra do monte que lhe pertencia no passado.
Nossa vida é tão efêmera, e nossas atitudes poderão ser avaliadas pelos historiadores que no futuro se escandalizarão com aquilo que numa determinada época pareceria normal.
Mas não só os costumes devem ser seguidos como nosso bom senso e humanidade. Acho que faltaram ambos ao Major.
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