De acordo com comunicado divulgado por sua família,
Hobsbawm deixa "não só sua mulher dos últimos 50 anos, Marlene, seus três
filhos, sete netos e um bisneto, mas também seus milhares de leitores e
pesquisadores no mundo todo". Autor de Era dos Impérios, Era das
Revoluções, Era dos Extremos e Globalização, Democracia e
Terrorismo – entre muitos outros –Hobsbawm revolucionou – de fato – a
historiografia e a interpretação da História sobre o nosso tempo.
Relevante e fundamental
Poucos historiadores tiveram o privilégio e a
lucidez de refletir sobre sua própria época. Britânico, nascido em Alexandria,
no Egito em 1917, Hobsbawm passou seus primeiros anos em Viena, nas ruínas do
último grande império europeu, o Habsburgo. Ainda criança se muda para Berlim,
onde permanece até vitória do partido nazista em 1933. Quando a Segunda Guerra
Mundial teve inicio - já historiador e membro do Partido Comunista Britânico -
colaborou com os serviços de inteligência e integrou o Royal Army Educational
Corps, uma divisão responsável pela instrução e educação dentro do exército.
Na década de 60, se relaciona com a privilegiada
geração de historiadores marxistas ingleses, como Christopher Hill e Edward
Thompson. Seu interesse pelo trabalhismo o leva a estudar as revoluções
burguesas do século XIX. Nascia a preciosa série dividida em eras: Revoluções
(1789-1948), Capital (1848-1975), Impérios (1875-1914). Bibliografia obrigatória
dos cursos de História de todo mundo, seus trabalhos sobre o período ainda
foram acrescidos de dois livros fundamentais sobre História Moderna: A Invenção
das Tradições (1983) e Nações e Nacionalismo desde 1780 (1991).
Seu trabalho mais marcante, no entanto, viria com
“A Era dos Extremos” de 1991. Coincidindo com boa parte do seu tempo de vida, o
historiador se coloca no papel de testemunha do mais interessante e sangrento
século da história, como costumava dizer. Ele divide o período em três eras. A
primeira, a da catástrofe, marca as duas grandes guerra, o surgimento da União
Soviética, a crise econômica de 1929 e o aparecimento dos fascismos. A segunda,
nas décadas de 50 e 60, chamada de anos dourados, período de grande expansão
econômica do capitalismo. Por fim, entre 1970 e 1991, o desmoronamento final,
quando os sistemas ideológicos e institucionais caem por terra.
Hobsbawm viveu muito, mas parece pouco frente à
magnitude de sua obra. Foram mais de 30 livros, alguns sobre paixões pessoais,
como “A História Social do Jazz” (1989), outros como reafirmação de sua
coerência ideológica, como seu último, “Como mudar o mundo: Marx e o Marxismo”
(2011). Nos últimos anos, permaneceu ativo e publicando muito. Em 2002 lançou
sua autobiografia, “Tempos Interessantes”. Cinco anos depois, alguns ensaios
que incluíam análises pontuais sobre o mundo pós 11 de setembro. Sua morte, aos
95 anos, deixa gerações de historiadores órfãs de um dos historiadores mais
lidos e influentes do último século.
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