terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Eu Sou o Mensageiro


Excêntricos. Assim são os trabalhos de Markus Zusak. Em seu livro ”A menina que roubava livros”, a história deve muito do seu sucesso à extravagância da escolha da narradora, a própria Morte, que vestida em personagem e escritora fez com que o livro virasse best-seller em todo o mundo. 
Já em ”Eu sou o mensageiro”, pra manter a tradição, o narrador é o personagem principal da história. A história é contada pelo seu próprio herói, mas sem o mesmo ar soberano de uma Morte. Na história, o herói que clama por ajuda.
Esse herói é chamado por Ed Kennedy. Taxista, dono de um cão fedorento e cheio de problemas amorosos e familiares, aos 19 anos, Ed, segundo a sua própria descrição, é um fracassado. Como exemplo, o narrador se compara a heróis de outras gerações, como Bob Dylan e Joana Dark, que já aos 19 tinham os seus nomes reconhecidos. Depois de intervir um assalto em um banco, a sua vida toma outro rumo. Se não bastasse ser aclamado o herói da cidade, Ed é escolhido pra salvar vidas.
Por meio de cartas de baralho anônimas, Ed Kennedy recebe endereços de pessoas que necessitam de ajuda. A partir daí, Ed faz do auxílio a essas pessoas a sua vida. Ninguém que passará por Ed Kennedy sairá ileso de mudanças. Nem o próprio Ed Kennedy.
Ed Kennedy conta a sua própria história como um verdadeiro morador de subúrbio. Palavrões são soltos pelas páginas sem a menor frescura. Frescura que simplesmente não existe no livro. Nem em linguagem, nem em histórias contadas. Fracassos amorosos, fracassos sexuais, Ed conta todo o tipo de fracasso, sem esconder o modo que realmente é. Fracassos que o fizeram ser um também. 
É um livro aberto pra reflexão de qualquer um que se abra à leitura. Sem moral da história, cada história passa uma lição diferente. E em cada personagem novo, o narrador cresce mais como pessoa e, consequentemente, o leitor também. Difícil é não pegar carona no táxi de Ed e não querer saber quem é o responsável pelas cartas.
Não precisa sequer ter tido uma crise de identidade aos 19 anos pra se identificar com o livro. Só precisa ser humano, só precisa ter vivido um pouco. Ter fracassado em ser um herói. Ter sido herói por saber fracassar. 

Um trecho do livro: “O assaltante é um mané. Eu sei disso. Ele sabe disso. O banco inteiro sabe disso. Até meu parceirão Marvin, que é mais mané do que o assaltante, sabe disso. O pior de tudo é que o carro do Marv está estacionado lá fora, e o parquímetro, correndo. Estamos todos deitados aqui no chão de cara pra baixo, e os 15 minutos de estacionamento estão quase acabando. ‘Por que esse cara não anda logo com isso?’, falo bem baixinho…”

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