terça-feira, 16 de agosto de 2011

Liga de Delos



Os Persas, apesar de vencidos pelos Gregos nas batalhas de Maratona (490 a. C.), Salamina (480) e Plateias e Mycale (479), não foram exterminados ou definitivamente afastados do mundo grego depois das duas primeiras guerras entre os dois povos; pelo contrário, mantiveram a sua ameaça. Aliás, os Gregos acreditavam mesmo que os Persas regressariam rapidamente para uma terceira tentativa, o que não chegou a acontecer - apesar de ter sido sua intenção - devido a problemas internos (voltaram somente trinta anos mais tarde). Numa atmosfera de medo e inquietação, urgia criar medidas de prevenção e defesa do Egeu e da Ásia Menor, mais do que do próprio continente. Era importante manter viva a chama da resistência tenaz dos Gregos aos Persas, só possível devido às tréguas alcançadas entre as polis rivais e à sua união perante o inimigo.

Atenas, comercialmente ativa e rica, era, de forma natural, a mais importante das cidades-estados gregas e aquela que oferecia - em grande parte devido aos seus êxitos nas duas guerras anteriores - melhores condições políticas e organizativas para comandar a unidade helénica contra o perigo persa. Neste contexto surgiu uma coligação de várias cidades gregas, comandadas por Atenas, com centro administrativo na ilha de Delos. Esta escolha advinha do facto de aquela ilha possuir uma importância religiosa de carácter pan-helénico, pois ali se situava um importante templo dedicado a Apolo, local de convergência de gregos de vários pontos do Mediterrâneo e de fácil acesso por mar, situada que estava no centro do Egeu.
Esta Liga - ou Confederação - de Delos, também denominada Ático-Délica, consistia numa aliança de natureza político-militar das polis gregas em torno do Mar Egeu. O principal objetivo residia na luta contra o perigo persa. Idealizada pelo ateniense Aristides, concretizou-se efetivamente em 478 a. C., um ano após as últimas vitórias sobre os Persas. Tinha por base um sistema de contribuições, por parte das cidades coligadas, em embarcações, marinheiros ou dinheiro, no sentido de se criar uma frota comum. Cada cidade continuava, porém, a manter a sua autonomia e identidade. A preponderância política e administrativa de Atenas rapidamente se alargou para o campo militar e operacional, pois passou a deter o comando dessa armada helénica. A Liga de Delos tinha como órgão legislador e executivo um conselho composto por delegados das várias cidades.

A maior parte das cidades optou por contribuir com dinheiro, formando-se um tesouro, dito de Delos. A Atenas ficava reservada a incumbência de construir e armar a frota; as embarcações eram assim feitas nos seus estaleiros do Pireu, para além de que as tripulações eram também atenienses. Assim, a frota da Liga de Delos confundia-se cada vez mais com a marinha de guerra de Atenas, o que na prática acabou por se concretizar. Afastado o perigo persa, depois da sua terceira e última tentativa, entre 450 e 449 a. C. (paz de Címon ou de Callias), a Liga começou a perder sentido. Reavivou-se então o desejo das polis confederadas de regressar à sua autonomia anterior. Atenas, todavia, dominando cada vez mais a Liga, transformou-a num instrumento da sua política imperialista, nomeadamente sob o governo de Címon e de Péricles, estadistas sob cujo consulado se atingiu o apogeu ateniense. As polis, contudo, mantiveram as suas contribuições monetárias, com Atenas na direção e controlo militar: o contributo anual das cidades era tão elevado que se calcula hoje que igualava o rendimento público de Atenas.

A Liga tornou-se assim o "império de Atenas": qualquer tentativa de rebelia ou intenção autonómica em relação à Liga de Delos era rapidamente esmagada e punida por Atenas, o que conduziu à satelitização de várias cidades em torno da sua influência. A figura cimeira deste "império" ateniense foi Péricles, estadista virado para a expansão, disciplina e equilíbrio na administração da polis. Esta crescente hegemonia ateniense desenhara-se claramente já em 454, com a transferência da sede da Liga e dos seus tesouros para Atenas (que alegava que ali estavam mais ao abrigo dos Persas), deles se servindo Péricles para reconstruir e embelezar a cidade. Por outro lado, suprimiu o conselho federal das cidades, o que cimentou ainda mais o imperialismo ateniense. Estalaram revoltas, como a de Samos (440-39 a. C.), que foram reprimidas: Atenas tratava os aliados de uma forma inferior e secundária, construindo uma paz armada e instável.

Para além de alianças com outras polis gregas (da Sicília, Trácia ou Crimeia), com o intuito estratégico de assegurar a sua política imperialista, Atenas envolveu-se cada vez mais em tensões com outras cidades gregas, como Esparta, despertando animosidades e revoltas contra a Liga. Esta, já enfraquecida e cada vez mais uma imagem de Atenas, sucumbiu com a Guerra do Peloponeso, na qual Atenas saiu derrotada por Esparta em 404 a. C. Uma nova Liga surgiu entre 378-77 e 338 a. C., também sob a égide ateniense, para combater a preponderância de Esparta. Porém, teve menor importância e vitalidade do que a Liga de Delos e o seu fim apareceu com o domínio da Grécia por Filipe da Macedónia.

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