Site da UNE conversou com o economista Gonzaga Belluzzo
sobre a relação entre desenvolvimento social , PIB e o modelo de
desenvolvimento do país.
“Porque uma grande nação deve ser medida por aquilo que
faz para suas crianças e para seus adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto,
é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu
presente e o seu futuro, que são suas crianças e adolescentes”. Essa afirmação
foi proferida pela presidente do Brasil, Dilma Rousseff, na última quinta-feira
(12), em Brasília, durante a Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente para rebater um questionamento relativo à diminuição da estimativa
de crescimento do PIB para 2012 em relação ao desenvolvimento do país.
De acordo com o relatório Focus, divulgado pelo Banco
Central (BC), a estimativa dos analistas para o crescimento do PIB em 2012,
pela primeira vez no ano, recuou para menos de 2%– passou de 2,01% para 1,90%
na semana do dia 9 ao 14 de julho.
A fala da presidente despertou um debate em torno do
valor que uma medida como o PIB tem ao se analisar, de fato, o crescimento e desenvolvimento
do Brasil. “O PIB é um indicador muito limitado, e o crescimento por si só não
diz nada. E claro que se não tivermos crescimento, não resolvemos outras
questões, mas o simples fato de você ter uma taxa de crescimento de 10% do PIB
para um país não consegue sozinho qualificar nada”, explicou o professor e
economista Gonzaga Belluzzo.
A UNE também comentou o fato, no momento em que o PIB
está no centro das questões levantadas pelos estudantes brasileiros:
“Observamos com curiosidade essa declaração da presidenta Dillma, protestando,
como sempre estivemos, por mudanças na política econômica do país. Repudiamos
os cortes em setores estratégicos, repudiamos as falas recentes de ministros
contra investimentos na Educação, a riqueza que queremos é bem diferente. Para
o movimento social, o PIB nunca foi o mais importante. Ser a sexta ou a primeira
economia do mundo nunca foi o mais importante se o país é tão carente em outros
aspectos. Na verdade, devemos até nos envergonhar de estar entre as dez maiores
economias e ter índices tão negativos na qualidade da educação pública, na
desigualdade social, na inclusão da juventude.”
10% DO PIB PARA EDUCAÇÃO: O PAÍS VAI QUEBRAR?
A afirmação da
presidente também foi proferida num contexto em que estudantes e demais setores
do movimento social travam uma legítima batalha com o governo para que o Plano Nacional
de Educação (PNE) seja aprovado com urgência e para que em seu texto esteja
definida uma verba de investimentos no setor de 10% do PIB. Por entenderem que
educação de qualidade é um dos pilares para o verdadeiro desenvolvimento, os
movimentos lutam pelo PNE como uma caminho para uma sociedade mais justa e
democrática, com mais acesso à universidade e menor desigualdade social.
No último dia 26 de junho, um importante passo foi dado
nessa direção: O PNE com 10% do PIB foi aprovado, pela Câmara dos Deputados. O
projeto segue para o Senado, retorna à Câmara para ser ratificada em Plenário
e, finalmente, vai à sanção da presidenta Dilma Rousseff.
Ao que tudo indica, a conquista tratou-se de uma batalha
vencida, mas distante do fim da guerra. Após a aprovação do texto, o ministro
da Fazendo, Guido Mantega, declarou que “Passar [os gastos com educação] para
10% do PIB de forma intempestiva põe em risco as contas públicas. Isso não vai
beneficiar a educação, vai quebrar o Estado brasileiro”. Mantega defende a
proposta de elevar as despesas da pasta dos atuais 5% para 7%.
Nesse contexto confuso, fica a pergunta: poderia um
investimento mais robusto em educação quebrar um país, que ocupa a sexta
posição no ranking de maior economia do mundo? O professor e economista Gonzaga
Belluzzo discorda: “Não é o caso. Ele (o ministro) usou uma força de expressão.
O que notamos no mundo hoje uma desvalorização da questão da educação, por
exemplo, em diversos países, não somente no Brasil. Essa é a lógica perversa”,
acrescentou o economista.
MODELO DE DESENVOLVIMENTO: QUEREMOS INVESTIMENTOS EM
EDUCAÇÃO DE QUALIDADE
O presidente da UNE Daniel Iliescu vê com preocupação o
panorama internacional e aponta os investimentos em educação como saída
possível para o Brasil se desenvolver a longo prazo:
“Em momentos de crise internacional, e vale ressaltar que
essa é uma crise que coloca em cheque todo um modelo econômico mundial, é muito
perigoso que alguns governos façam a opção pela redução de direitos. Não
deixaremos o Brasil se iludir nesse sentido, estaremos mobilizados para
demonstrar ao governo o tipo de desenvolvimento que queremos, que é o
desenvolvimento humano, de cada família, de cada jovem, principalmente pela via
da educação pública e de qualidade.”
Belluzzo colocou
em cheque o desenvolvimento do país: “Temos que fazer um debate muito sério
sobre educação e sobre o destino que os que foram formados pelo seu sistema
educacional. Isso é o que importa. Temos que ter um projeto de formação e
educação, sobretudo nos níveis mais básicos, onde estão as maiores
deficiências”.
Assumindo a precariedade do PIB como indicador de
desenvolvimento do Brasil, Belluzzo reforçou a necessidade de investir em
educação para diminuir a desigualdade do país: “A ideia de que vamos crescer sem
base de educação formal e cultural para os nossos brasileiros é errada. Esse
crescimento sozinho não basta, como experimentamos por muitos anos. Isso não
levou a uma maior igualdade e desenvolvimento social. Tem que haver um esforço.
Todos falam que educação é importante, mas na hora do vamos, ver ninguém faz”.
Fica o recado.
Camila Hungria
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