terça-feira, 17 de julho de 2012

Pra que Serve o PIB?



Site da UNE conversou com o economista Gonzaga Belluzzo sobre a relação entre desenvolvimento social , PIB e o modelo de desenvolvimento do país.


“Porque uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e para seus adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto, é a capacidade do país, do governo e da sociedade de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são suas crianças e adolescentes”. Essa afirmação foi proferida pela presidente do Brasil, Dilma Rousseff, na última quinta-feira (12), em Brasília, durante a Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente para rebater um questionamento relativo à diminuição da estimativa de crescimento do PIB para 2012 em relação ao desenvolvimento do país.

De acordo com o relatório Focus, divulgado pelo Banco Central (BC), a estimativa dos analistas para o crescimento do PIB em 2012, pela primeira vez no ano, recuou para menos de 2%– passou de 2,01% para 1,90% na semana do dia 9 ao 14 de julho.

A fala da presidente despertou um debate em torno do valor que uma medida como o PIB tem ao se analisar, de fato, o crescimento e desenvolvimento do Brasil. “O PIB é um indicador muito limitado, e o crescimento por si só não diz nada. E claro que se não tivermos crescimento, não resolvemos outras questões, mas o simples fato de você ter uma taxa de crescimento de 10% do PIB para um país não consegue sozinho qualificar nada”, explicou o professor e economista Gonzaga Belluzzo.

A UNE também comentou o fato, no momento em que o PIB está no centro das questões levantadas pelos estudantes brasileiros: “Observamos com curiosidade essa declaração da presidenta Dillma, protestando, como sempre estivemos, por mudanças na política econômica do país. Repudiamos os cortes em setores estratégicos, repudiamos as falas recentes de ministros contra investimentos na Educação, a riqueza que queremos é bem diferente. Para o movimento social, o PIB nunca foi o mais importante. Ser a sexta ou a primeira economia do mundo nunca foi o mais importante se o país é tão carente em outros aspectos. Na verdade, devemos até nos envergonhar de estar entre as dez maiores economias e ter índices tão negativos na qualidade da educação pública, na desigualdade social, na inclusão da juventude.”

10% DO PIB PARA EDUCAÇÃO: O PAÍS VAI QUEBRAR?

 A afirmação da presidente também foi proferida num contexto em que estudantes e demais setores do movimento social travam uma legítima batalha com o governo para que o Plano Nacional de Educação (PNE) seja aprovado com urgência e para que em seu texto esteja definida uma verba de investimentos no setor de 10% do PIB. Por entenderem que educação de qualidade é um dos pilares para o verdadeiro desenvolvimento, os movimentos lutam pelo PNE como uma caminho para uma sociedade mais justa e democrática, com mais acesso à universidade e menor desigualdade social.

No último dia 26 de junho, um importante passo foi dado nessa direção: O PNE com 10% do PIB foi aprovado, pela Câmara dos Deputados. O projeto segue para o Senado, retorna à Câmara para ser ratificada em Plenário e, finalmente, vai à sanção da presidenta Dilma Rousseff.

Ao que tudo indica, a conquista tratou-se de uma batalha vencida, mas distante do fim da guerra. Após a aprovação do texto, o ministro da Fazendo, Guido Mantega, declarou que “Passar [os gastos com educação] para 10% do PIB de forma intempestiva põe em risco as contas públicas. Isso não vai beneficiar a educação, vai quebrar o Estado brasileiro”. Mantega defende a proposta de elevar as despesas da pasta dos atuais 5% para 7%.

Nesse contexto confuso, fica a pergunta: poderia um investimento mais robusto em educação quebrar um país, que ocupa a sexta posição no ranking de maior economia do mundo? O professor e economista Gonzaga Belluzzo discorda: “Não é o caso. Ele (o ministro) usou uma força de expressão. O que notamos no mundo hoje uma desvalorização da questão da educação, por exemplo, em diversos países, não somente no Brasil. Essa é a lógica perversa”, acrescentou o economista.

MODELO DE DESENVOLVIMENTO: QUEREMOS INVESTIMENTOS EM EDUCAÇÃO DE QUALIDADE

O presidente da UNE Daniel Iliescu vê com preocupação o panorama internacional e aponta os investimentos em educação como saída possível para o Brasil se desenvolver a longo prazo:

“Em momentos de crise internacional, e vale ressaltar que essa é uma crise que coloca em cheque todo um modelo econômico mundial, é muito perigoso que alguns governos façam a opção pela redução de direitos. Não deixaremos o Brasil se iludir nesse sentido, estaremos mobilizados para demonstrar ao governo o tipo de desenvolvimento que queremos, que é o desenvolvimento humano, de cada família, de cada jovem, principalmente pela via da educação pública e de qualidade.”

 Belluzzo colocou em cheque o desenvolvimento do país: “Temos que fazer um debate muito sério sobre educação e sobre o destino que os que foram formados pelo seu sistema educacional. Isso é o que importa. Temos que ter um projeto de formação e educação, sobretudo nos níveis mais básicos, onde estão as maiores deficiências”.

Assumindo a precariedade do PIB como indicador de desenvolvimento do Brasil, Belluzzo reforçou a necessidade de investir em educação para diminuir a desigualdade do país: “A ideia de que vamos crescer sem base de educação formal e cultural para os nossos brasileiros é errada. Esse crescimento sozinho não basta, como experimentamos por muitos anos. Isso não levou a uma maior igualdade e desenvolvimento social. Tem que haver um esforço. Todos falam que educação é importante, mas na hora do vamos, ver ninguém faz”. Fica o recado.

Camila Hungria

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