quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Fim do Outono


Com um leve toque das mãos num movimento forte e lento
Como quem imita um maestro a reger sua orquestra
Retiro as folhas secas do banco do meu jardim
E começo a pensar como seria diferente a vida se não fosse tão igual ela é

E ao sentar-me só e de olhos fechados
Contemplo o agudo e fraco canto do vento
Enquanto folhinhas amarelas caem sobre meu rosto
As que sobrarem depois do sopro despretensioso, ficarão para contar história

O dourado crepuscular esconde meu semblante triste
Aparentemente só, ensaio um tímido sorriso breve 
Ao ouvir o canto de um canário que também pensava estar a sós com Deus
E bons minutos quase silenciosos passam rapidamente sem que eu perceba

Descansando as mãos junto ao meu peito numa espécie de reverência
Ao eterno e raro instante de intimidade com o sagrado
Inspiro fundo o ar frio e perfumado das flores de outono
Querendo poder guardar em mim uma porção preciosa do infinito

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