Bendito aquele que é forte,
E desconhece o rancor,
E, em vez de servir a morte,
Ama a Vida, e serve o Amor!”
(“O Rio”, Olavo Bilac)
E desconhece o rancor,
E, em vez de servir a morte,
Ama a Vida, e serve o Amor!”
(“O Rio”, Olavo Bilac)
Fernando Jorge, escritor e jornalista, nos maravilha com sua minuciosa e exaustiva pesquisa sobre o poeta Olavo Bilac. Num livro ricamente ilustrado e com detalhes precisos da vida cotidiana do poeta, apresenta-nos um delicioso relato da vida cultural brasileira no final do século XVIII e início do século XIX.
OLAVO Brás Martins dos Guimarães BILAC, nasceu em 16 de dezembro de 1865, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Seu pai, Dr. Brás, médico, defendia o pátria na então Guerra do Paraguai, iniciada por Solano Lopez, que aspirava tornar-se o “Imperador do Prata”. Foi derrotado pela “Tríplice Aliança”, formada pelo Brasil, Argentina e Uruguai, que praticamente reduziu à pó o país vizinho.
Contrário a vontade do pai, Olavo pretendia tornar-se advogado, seguir carreira diplomática e correr o mundo. Dr. Brás, no entanto, era impetuoso. Tendo Bilac terminado com antecedência os estudos preparatórios, conseguiu junto a D. Pedro II a expedição de um decreto (n. 2.956, de 03.08.1880), autorizando o governo a matricular o poeta na faculdade de medicina do Rio de Janeiro, dispensando-o do requisito da “idade legal”.
Olavo Bilac, porém, a cada dia se descontentava mais do curso de medicina, preferia as lides literárias e passou a ser freqüentador assíduo da Rua do Ouvidor, de seus botequins e sua boemia. Certa madrugada, na companhia do amigo Paula Nei, ao chegar em casa é expulso por seu pai, que o vê como um vagabundo, rodeado de más companhias. Daí por diante não se falam mais, sendo que Bilac passa a manter contatos esporádicos apenas com sua mãe, D. Delfina.
Por sorte seu genitor estava enganado e Bilac não se deixou vencer pelo tratamento que lhe foi dispensado. Fernando Jorge, nesse particular, é primoroso em apresentar ao leitor a exata situação política e social da época. Bilac não poderia ter mais sorte e melhor companhia. Viveu o período da abolição da escravidão, onde atuou na companhia de José do Patrocínio e Joaquim Nabuco. Acompanhou a transição da monarquia para a república e já em 1886 se mostrava um dos expoentes da nova geração literária, acompanhado de Raul Pompéia, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira. Foi apresentado a Machado de Assis, considerado “o primeiro dos nossos prosadores”. Tornou-se amigo de Aluízio de Azevedo e conheceu em Paris o respeitado escritor português Eça de Queiroz. Era colega de Afonso Arinos, Humberto de Campos, Afrânio Peixoto, Martins Fontes e João do Rio, sendo contemporâneo de Rui Barbosa, Cruz e Sousa, Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva e Gilberto Amado.
Como se percebe, o meio em que Bilac viveu era propício para o crescimento intelectual e literário, estando ladeado o poeta por grandes nomes da história nacional.
A poesia de Bilac se tornava cada vez mais respeitada e admirada pelos seus leitores. O soneto “Ouvir Estrelas” logo se popularizou e o amor era um tema constante em seus versos. Apaixona-se, então, por Amélia de Oliveira, irmã de seu preclaro amigo Alberto. Mesmo enamorados, Bilac resolve partir para São Paulo, pretendendo graduar-se em direito, visto que há tempos havia abdicado do curso de medicina. No entanto, sem colar grau, retorna à corte em 1888 com o propósito de consumar seu noivado com Amélia (a saudade da vida boêmia e de seus amigos também era grande). Entrementes, seu intuito não logra êxito, permanecendo Bilac no celibato até o final de seus dias. O amor, no entanto, mantêm-se como tema recorrente em sua poesia, conforme podemos verificar em “Beijo Eterno”:
Contrário a vontade do pai, Olavo pretendia tornar-se advogado, seguir carreira diplomática e correr o mundo. Dr. Brás, no entanto, era impetuoso. Tendo Bilac terminado com antecedência os estudos preparatórios, conseguiu junto a D. Pedro II a expedição de um decreto (n. 2.956, de 03.08.1880), autorizando o governo a matricular o poeta na faculdade de medicina do Rio de Janeiro, dispensando-o do requisito da “idade legal”.
Olavo Bilac, porém, a cada dia se descontentava mais do curso de medicina, preferia as lides literárias e passou a ser freqüentador assíduo da Rua do Ouvidor, de seus botequins e sua boemia. Certa madrugada, na companhia do amigo Paula Nei, ao chegar em casa é expulso por seu pai, que o vê como um vagabundo, rodeado de más companhias. Daí por diante não se falam mais, sendo que Bilac passa a manter contatos esporádicos apenas com sua mãe, D. Delfina.
Por sorte seu genitor estava enganado e Bilac não se deixou vencer pelo tratamento que lhe foi dispensado. Fernando Jorge, nesse particular, é primoroso em apresentar ao leitor a exata situação política e social da época. Bilac não poderia ter mais sorte e melhor companhia. Viveu o período da abolição da escravidão, onde atuou na companhia de José do Patrocínio e Joaquim Nabuco. Acompanhou a transição da monarquia para a república e já em 1886 se mostrava um dos expoentes da nova geração literária, acompanhado de Raul Pompéia, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira. Foi apresentado a Machado de Assis, considerado “o primeiro dos nossos prosadores”. Tornou-se amigo de Aluízio de Azevedo e conheceu em Paris o respeitado escritor português Eça de Queiroz. Era colega de Afonso Arinos, Humberto de Campos, Afrânio Peixoto, Martins Fontes e João do Rio, sendo contemporâneo de Rui Barbosa, Cruz e Sousa, Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva e Gilberto Amado.
Como se percebe, o meio em que Bilac viveu era propício para o crescimento intelectual e literário, estando ladeado o poeta por grandes nomes da história nacional.
A poesia de Bilac se tornava cada vez mais respeitada e admirada pelos seus leitores. O soneto “Ouvir Estrelas” logo se popularizou e o amor era um tema constante em seus versos. Apaixona-se, então, por Amélia de Oliveira, irmã de seu preclaro amigo Alberto. Mesmo enamorados, Bilac resolve partir para São Paulo, pretendendo graduar-se em direito, visto que há tempos havia abdicado do curso de medicina. No entanto, sem colar grau, retorna à corte em 1888 com o propósito de consumar seu noivado com Amélia (a saudade da vida boêmia e de seus amigos também era grande). Entrementes, seu intuito não logra êxito, permanecendo Bilac no celibato até o final de seus dias. O amor, no entanto, mantêm-se como tema recorrente em sua poesia, conforme podemos verificar em “Beijo Eterno”:
“Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com o teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para minha vida,
Só para o meu amor!”
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com o teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para minha vida,
Só para o meu amor!”
Também são narrados os episódios em que Bilac esteve preso, por ordem do Marechal Floriano Peixoto, que o acusara de participar de movimentos subversivos (Bilac era simpatizando de Mal. Deodoro da Fonseca), e as rusgas que o poeta teve com o escritor Raul Pompéia, decorrentes de insultos velados na imprensa carioca.
Outro destaque que merece o livro diz respeito à personalidade do biografado, em especial o espírito galhofeiro do poeta, de um humor mordaz e espirituoso. O escritor de “Via-Láctea” tinha uma memória fantástica, sabia de cor seus versos e de muitos outros poetas da época. Gostava de Victor Hugo, Maupassant, Flaubert, Shakespeare e Dante, para citar alguns. Adorava vinhos finos e mulheres belas, cigarros e charutos caros. Deitava-se tarde e não tinha hora para acordar, sendo estudioso das “ciências ocultas”. Conhecido como primoroso conferencista, encantava a todos com seus discursos, proferindo orações para as mais variadas platéias. Chegou, inclusive, a discursar no banquete oferecido a Santos-Dumont pela comunidade brasileira em Paris. Foi nessa época que os médicos descobriram que o poeta tinha o coração dilatado, cuja doença agravou-se e o levou a morte em 28 de dezembro de 1918, então com 53 anos.
Bilac sempre foi apaixonado pelo Brasil, autor do “Hino à Bandeira” e incentivador incansável do alistamento militar obrigatório. Seu patriotismo pode ser facilmente notado em sua obra, sendo o poema “A Pátria” uma verdadeira demonstração de amor. Quando da Nota Preliminar da Primeira Edição, datada de 29.03.1963, como que antevendo o futuro do país e de sua gente, Fernando Jorge assim vaticinou: “Nesta época absurda, que consagra o apedeuta e condena ao ostracismo os cidadãos de talento e de caráter, em que os grandes nomes do nosso país são os jogadores de futebol, em que a mocidade se mostra tão imbecilizada e sem fibra, época babilônica que endeusa o sexo e transforma a política numa transação financeira, nesses tempos dissolutos, vergonhosos, de canalhocracia, incultura e arrivismo, é sobretudo consolador evocar o vulto de Olavo Bilac, um poeta que confiou no futuro da sua terra, que consumiu os derradeiros anos de sua existência na tarefa de acender, no peito dos brasileiros, a sacrossanta labareda do civismo.”
O livro é primoroso. Abrange todo o contexto histórico da época e a importância do biografado nessa seara temporal.
Bilac sempre foi apaixonado pelo Brasil, autor do “Hino à Bandeira” e incentivador incansável do alistamento militar obrigatório. Seu patriotismo pode ser facilmente notado em sua obra, sendo o poema “A Pátria” uma verdadeira demonstração de amor. Quando da Nota Preliminar da Primeira Edição, datada de 29.03.1963, como que antevendo o futuro do país e de sua gente, Fernando Jorge assim vaticinou: “Nesta época absurda, que consagra o apedeuta e condena ao ostracismo os cidadãos de talento e de caráter, em que os grandes nomes do nosso país são os jogadores de futebol, em que a mocidade se mostra tão imbecilizada e sem fibra, época babilônica que endeusa o sexo e transforma a política numa transação financeira, nesses tempos dissolutos, vergonhosos, de canalhocracia, incultura e arrivismo, é sobretudo consolador evocar o vulto de Olavo Bilac, um poeta que confiou no futuro da sua terra, que consumiu os derradeiros anos de sua existência na tarefa de acender, no peito dos brasileiros, a sacrossanta labareda do civismo.”
O livro é primoroso. Abrange todo o contexto histórico da época e a importância do biografado nessa seara temporal.
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