No filme “Tropa de elite 2”, seu diretor, José Padilha, se redime dos “pecados ideológicos” despretensiosamente cometidos no primeiro. Enquanto este demonstra forte intenção maniqueísta e tendência manipuladora, jogando “mocinhos” contra “bandidos” numa caricatura de “bang-bang” ao melhor estilo, Tropa de Elite 2, desde o início da trama, transpira maturidade política, conhecimento de causa cinematográfica e uma aproximação fiel à realidade existente nas favelas da cidade do Rio de Janeiro e, por extensão do sistema, do Brasil inteiro.
Em Tropa de Elite 2, o panóptico computadorizado faz a vigilância carcerária de Bangu I com a suposição inicial de que ele serve para “adestrar as pessoas, por meio da docilização dos corpos que estão submetidos a penas judiciais, a fim de que elas cumpram todos os seus deveres perante a lei”. (MICHEL FOUCAULT) Contudo, de uma forma velada, no filme, o panóptico serve mais do que para vigiar os presidiários, ou seja, serve para puni-los, serve para deixar acontecer ao sabor da observação dos vigilantes um prejuízo traiçoeiro e irreparável aos direitos humanos dos detentos e abalar a confiança nessa instituição
O diretor conseguiu abordar essas e outras questões com a notoriedade de um cientista político, uma vez que focalizou a lógica do sistema e a exibiu com propriedade, considerando tanto o lado podre deste quanto o que nos está disponível através das fendas que o próprio sistema produz, a fim de que tomemos partido delas em favor dos excluídos.
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