Desembarque de escravos negros vindos da África. (Imagem: Rugendas) |
Durante as obras de revitalização da zona portuária da cidade do Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos de 2016, foram encontradas ruínas do maior porto de chegada de escravos do mundo – o Cais do Valongo, construído em 1758 para receber navios negreiros.
Uma equipe de pesquisadores do Museu Nacional inspecionou o terreno para impedir que vestígios históricos fossem perdidos. Entre as relíquias encontradas, estão materiais utilizados pelos escravos do século XIX, como botões produzidos a partir de ossos bovinos, cachimbo de cerâmica e objetos usados em atividades religiosas.
Historiadores estimam que, no período de colonização do Brasil, foram trazidos à força para o país cerca de 4 milhões de africanos. Desse número, aproximadamente 1 milhão entrou no país pelo Cais do Valongo.
Após a proibição de importação de escravos em 1850, foi construído sobre o Valongo o Cais da Imperatriz, para receber a então princesa Teresa Cristina, que se casou com Dom Pedro II. Depois da Proclamação da República, o local, novamente aterrado, recebeu ruas e praças.
Tráfico negreiro para o Brasil |
No Brasil, a escravidão negra teve início no século XVI com a colonização portuguesa. No século anterior, os portugueses já utilizavam escravos africanos nas ilhas da Madeira, de Açores e Cabo Verde. Quando da efetivação da exploração dos negros na colônia brasileira, negros de diversas partes da África foram trazidos para o trabalho escravo; inicialmente nos engenhos de açúcar dos portos de Salvador e Pernambuco, que foram os que mais movimentaram o tráfico durante os séculos XVI e XVII. Desenvolveu-se a partir de então um processo de dominação, usurpação de liberdade, exploração com fins lucrativos, desrespeito à cultura, às crenças e às diferenças.
O tráfico negreiro no Brasil foi proibido somente no século XIX, em 1850, por meio da Lei Eusébio de Queiróz. Entretanto, o fim da escravidão foi assinado somente em 1888 (Lei Áurea).
Navio negreiro – as condições de viagem
Os escravos eram transportados de um continente a outro nos navios negreiros, também conhecidos como tumbeiros. Eles eram colocados nos porões e faziam longas travessias em condições desumanas. Durante os meses de viagem, muitos ficavam doentes, passavam fome e sede. O ambiente dos porões era úmido e fétido. Não havia lugar específico para que os escravos pudessem fazer suas necessidades; sendo assim, viajavam em meio à sujeira, sem nenhuma higiene.
Devido às péssimas condições, muitos escravos morriam, e seus corpos eram jogados ao mar. Mas nem sempre esse era o procedimento adotado. Viajar ao lado de mortos era algo comum, o que debilitava ainda mais a saúde dos negros.
De acordo com pesquisadores, os traficantes costumavam transportar um número de escravos muito maior do que os navios comportariam para uma viagem minimamente confortável. Isso ocorria por saberem que, ao fim da viagem, a carga humana teria sido dizimada em grande parte. Escravos de diferentes partes da África, muitas vezes de tribos inimigas, eram colocados juntos, amontoados como simples mercadorias.
Segundo o historiador José Gonçalves Salvador, com o passar dos anos, diferentes tipos de embarcações foram usados para levar os escravos. Um exemplo é a “nau de três coberturas”, na qual os escravos ficavam separados por categoria: homens, mulheres, grávidas e crianças. Essa separação, ao contrário do que se possa imaginar, não implicava em conforto. Dentro de cada patamar, os escravos viajavam apertados em fileiras e assentados um após o outro, sem muita mobilidade. Veja um exemplo desse tipo de embarcação:
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