domingo, 29 de janeiro de 2012

O Nome da Rosa

Férias e tudo de bom... consegui ler “O Nome da Rosa” depois de muito tempo e depois assistir ao longa. Sem sombra de duvidas o livro e bem melhor mas o longo não deixa a desejar eu RECOEMENDO!!




“No princípio era o Verbo e o Verbo estava junto a Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio junto a Deus e o dever do monge fiel seria repetir cada dia com salmo diante humildade o único evento imodificável do qual se pode confirmar a incontrovertível verdade.”



Deste modo começa O Nome da Rosa, livro que tornou o italiano Umberto Eco um autor reconhecido no mundo todo. Publicado originalmente em 1980, a obra reproduz a vida em uma abadia no norte da Itália em meio a assassinatos, mistérios, divergências teológicas e políticas.

Sabendo que não iria viver por muito mais tempo, Adso resolve em sua cela no mosteiro de Melk narrar fatos ocorridos muito tempo atrás, na época em que ainda era noviço e tinha como mestre o inglês Guilherme de Barkerville. Essas ocorrências  se deram num período agitado da história, o início do século XIV. As heresias aumentavam  as várias ordens tentavam tomar a verdade da Igreja apenas para si e os imperadores desejavam esmigalhar o poder do Papa.
 Era também o tempo do renascimento cultural europeu, quando as universidades apareciam em várias cidades e o uso da razão começou a ser novamente esclarecidas  para explicar os fenômenos.

Uma morte enigmática, seguindo, talvez, passagens do Apocalipse. Resolver este caso, antes que as delegações da Ordem Franciscana e do Papa cheguem à abadia, é a missão dada pelo abade a Guilherme e seu pupilo, Adso.

Indagando dezenas de pessoas, de despenseiros a bibliotecários, Guilherme usa de seu juízo lógico para montar o quebra-cabeça. Outra morte logo acontece, desta vez do copista Venâncio.

Guilherme, que gostava de desvendar  o que havia por trás dos fatos antes de lhes irrogar significados sobrenaturais, percebe que há algo sendo escondido em relação à biblioteca, e é para ela que rege seus esforços, mesmo que o acesso seja ilícito.

Em meio ao conflito gerado por tantos acontecimentos, Adso relata suas conversas com as mais desiguais pessoas, com as mais diversas experiências. Fica perturbado ao ver que as manifestações heréticas tão duramente contestáveis pela Igreja, assim como muitas das vertentes aceitas pelo Papa têm idéias e origens idênticas. O que altera um herege de um mártir não passa muitas vezes da simples deliberação de uma pessoa poderosa.

Certa noite, entretanto, Adso, resolve, explorar a biblioteca sozinho. Acha, caída num canto da cozinha, uma moça, cujas palavras não compreende. Não resiste à visão da mulher e quebra seus votos de castidade. A recordação desse fato o atormenta, mas Guilherme lhe explica que não foi tão hediondo assim.

Guilherme fala com Severino, o monge herborista, e ouve falar de um antigo veneno, muito potente e há anos desaparecido. Multiplicam-se os suspeitos.

Descobre-se que os monges Remigio e Salvatore tinham sido adepto de Dulcino, um herege responsável pela morte de milhares de pessoas e que pregava uma vida de desregramento e a morte de todos os sacerdotes, em nome da purgação da cristandade. As idéias obscuras de Dulcino aparecem na obra em vários instantes. Guilherme garanti, contudo, manter o segredo dos frades.

Nesse meio tempo chegam à abadia as delegações do Papa e dos Franciscanos. Os dois grupos solicitavam fazer uma prévia do futuro encontro com o Papa, em Avignon, onde o destino da Ordem Franciscana, tão forte, mas muitas vezes tomada como contraditória, seria sentenciado.

Guilherme e Adso voltam à biblioteca e encontram seu segredo. Ao invés de ser dividida em ordem alfabética ou pela data em que foram escritas as obras, os livros estavam repartidos por países posto de acordo com a geografia. Cada uma das dezenas de salas correlação a uma letra, e dependendo da forma como se percorria os corredores, chegava-se a um conjunto de obras de locais não parecidos. Estes locais eram apontados pela seqüência de letras das salas percorridas. Era, portanto, uma maneira para organizar milhares de volumes (a maior coleção da Europa na época), ao mesmo tempo em que possibilitava ao bibliotecário recordar onde estava e como chegar a deliberado livro. Todavia, há uma sala pela qual não se sabe como entrar, exatamente aquela apontada por escritos de Venâncio.

A contenda teológica  acontece, e os monges franciscanos e dominicanos discutem a pobreza de Cristo. A discussão se torna enérgica, logo os discursos são tomados por falas vulgares, e nada se pode concluir, exceto uma coisa: o encontro havia sido uma calamidade, e não se podia esperar uma melhora da situação quando da reunião com o Papa João XXII.

Mais tarde naquela noite uma nova morte é descoberta: Severino. A responsabiliza  cai, sem contestação, em Remigio, descoberto na cena do crime. É preso, e, juntamente com ele, Salvatore, pego em flagrante com uma mulher (a mesma encontrada por Adso) e com indícios de ter praticado magia negra.

Após ser obrigado a revelar, Remigio é setenciado à fogueira. A mulher é tomada como bruxa, e tem o mesmo fim. Todos pensam que é o fim das crueldades, que finalmente a abadia poderá prosseguir  com sua rotina de paz.

 Porém, no dia seguinte, após chegar atrasado na primeira missa da manhã, Malaquias, o bibliotecário, cai morto e envenenado, sem nenhuma explicação razoável.

Ao desvendar  mais sobre o passado de Jorge (um ancião cego), Malaquias e do próprio abade, o caso finalmente começa a fazer sentido para Guilherme.

O frade inglês e Adso aprendem como entrar na sala secreta da biblioteca, mas descobrem que o abade havia sido preso num compartimento próximo à cozinha. Sem poder fazer nada para ajudá-lo, os dois correm e acham Jorge com a relíquia que tanto queria proteger: um livro. Um livro sobre o riso.

Tudo é, então, esclarecido. O ancião explica que, muito tempo atrás, havia descoberto um livro de Aristóteles e o considerou muito arriscado. Como não podia mudar a história e fazer com que os outros escritos aristotélicos, que tanto haviam alterado o modo de pensar das pessoas, desaparecessem, tentou impedir que esta última obra, sobre as virtudes do riso, fosse lida por outros. Jorge considerava a risada algo maligno, e se as pessoas fossem instigadas  a rir de tudo, seria o fim do medo, do terror do inferno, do temor a Deus, e, por conseguinte, a Igreja ruiria. Por muitos anos, ele tentou evitar que os simples, o povo, tivessem outra idéia que não aquela protegiam pelos religiosos. Para isso, envenenou as páginas do livro, fazendo com que todos que o tocassem tivessem uma morte rápida.

Jorge começa a aniquilar  o livro, mas enquanto fugia de Guilherme e Adso uma tocha iniciou um incêndio na biblioteca. Como a maior  parte da abadia era construída em madeira, muitos dos prédios ficam logo em chamas, e pouco pode ser feito para combatê-las. É o fim do ancião, de todos os livros, e do próprio monastério.

Os monges se separam, e Adso volta à sua cidade natal, Melk, onde começa, então, a contar sua história.

Umberto Eco conclui sua obra com uma idéia: a procura pela verdade suma, ou o ato de tomar algo como tal verdade, é o que causa a intransigência e a total falta de razão.

“Stat rosa pristina nomine, nomina nuda tenemus”, a rosa antiga permanece no nome, nada temos além dos nomes.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Saboreando a Vida

O Sabor da vida está conectado com seu estado de espírito, para isso devemos estar saborear todos os dias deste largo cenário que é a vida.
Ao acordamos e nos esquecemos de celebrar por mais um dia, nem sempre acordamos entusiasmados, mas o surpreendente  é que temos a capacidade de recuperação muito rápido, já no outro dia estamos sorrindo. Um dia censuramos, no outro nossa consciência volta ao seu estado de normal, Porém  outras coisas, como trabalho, vida familiar, vida financeira e assim vamos tocando.
Posso comparar como as plantas, a chuva e o sol que são imprescindíveis e  essenciais para trazer a estabilidade no nosso sistema, assim nós também precisamos arrumar e desarrumar o nosso estado de espírito para encontrar essa estabilidade.
Necessitamos de amor para oxigenar nossas carências, de humor para olhar o mundo de forma mais homogênica, de espaço para nos sentir livre, de coerência para ter paz.
A felicidade deriva de todos estes ingredientes, mas o amado ajuda muito, para chorar em seu ombro quando essencial, sorrir se for preciso, mas o beijo do amor traz a benevolência que é bom demais.
Necessitamos saber que sem amor nada tem significado, ficamos incertos em um espaço perdido dentro de nós mesmo, tentando encontrar o que já existe, mas assolado as vezes por nossa própria escolha.
Muitas pessoas escrevem sobre tudo que estou falando aqui, mas cada um tem sua percepção do que está sentindo.
Não quero correr o risco de andar de costa para o nada, pois anelo  ter uma vida bela e o que desejo é que tenhamos plena consciência para acorda do que está encaixado  por detrás das palavras e com a nitidez para apreciar a vida.

Vendo ao Fundo

Quando a gente se abre mais, o outro vê fundo. E o fundo é quase sempre escuro e assusta.
(Caio Fernando Abreu. Carta a Hilda Hilst)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Viver...


                                          Aprendi a gostar de viver e ser feliz.
                                     (Caio Fernando Abreu, carta a Vera Antoun)

O Triunfo de Sharpe

Agora acabou o tempo... fim de férias preparação pra volta do trabalho, livros a menos a serem lidos, menos postagem e tudo bem corrido mas vamos lá terminei de ler "O Triunfo de Sharpe".
Passado em setembro de 1803, O Triunfo de Sharpe, é o segundo livro da série As Aventuras de Sharpe, que conta a história deste personagem fictício tendo como pano de fundo acontecimentos históricos mesclados a narrativa envolvente e precisa de Bernard Cornwell.

Depois de quatro anos a tomada da fortaleza de Seringapatam, Richard Sharpe, promovido a sargento, pode viver com certos luxos, como ter um  jovem criado para cuidar de seus poucos pertences, ser muito bem vindo em bordéis frequentados somente por oficiais e levar uma realidade sossegada, trabalhando no arsenal da fortaleza que ajudou a domar.

Experimentalmente, longe das batalhas, ele é expedido a Chasalgaon para escoltar um carregamento de munição até Seringapatam, Sharpe é o único sobrevivente de uma cilada armada pelo desertor Dodd, ex-oficial da Companhia das Índias Orientais, e seus fiéis cavaleiros sipaios. Angustiado por não ter respondido, ele tem a oportunidade de perseguir o desleal, quando seu velho conhecido, o coronel escocês McCandless, chefe de inteligência da Companhia, precisa de sua ajuda para capturar Dodd.

 O sargento Hakeswill, Observa inconformado com a promoção do herói (e com o castigo que recebeu dele, algo que envolve tigres famintos), vem comprovar que é um vilão, embora muito complicado, suficientemente ignóbil, covarde e astuto para bolar um novo plano para dar cabo da vida de Sharpe.

Ao mesmo tempo, as forças britânicas, comandadas pelo jovem e frio general Wellesley, têm um novo alvo: marchar contra a potente Confederação Mahratta, formada por rajás que não querem se sujeitar ao domínio inglês.  A primazia está do lado da Confederação, que conta com ex-oficiais europeus trabalhando como mercenários para treinar seu exército, que passa de 100 mil homens. Porém, Wellesley está decidido a conseguir uma vitória na cidade murada de Assaye, mesmo em desvantagem numérica. Wellesley e o sargento Sharpe alcança vários de seus objetivos. 

Leiam...

domingo, 22 de janeiro de 2012

Deus me disse...


De outra vez vi Deus, era um menino que me dizia para não perder a infância, que a infância era Deus.
(Caio Fernando Abreu, carta a Vera Antoun)

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

O Culpado de Tudo



Dentro do Role Cultural  que fiz com minha namorada na 3º feira fomos também ao Museu da Língua Portuguesa na Exposição "O Culpado de Tudo" de Oswald de Andrade.

A frase “Direito de ser traduzido, reproduzido e deformado em todas as línguas”, escrita pelo escritor Oswald de Andrade em 1933, no verso da folha de rosto da edição original de “Serafim Ponte Grande”, foi o ponto de partida dos idealizadores da exposição “Oswald de Andrade: o culpado de tudo”. A mostra fica em cartaz até o dia 30 de janeiro de 2012 e tem entrada Catraca Livre aos sábados.

Na mostra, o público tem a oportunidade de conhecer um dos criadores da Semana de Arte Moderna. A curadoria é de José Miguel Wisnik, com a curadoria-adjunta de Cacá Machado e Vadim Nikitin, e consultoria de Carlos Augusto Calil e Jorge Schwartz. O projeto expográfico é de Pedro Mendes da Rocha.

A exposição contempla três dimensões de leitura: poética, Histórico-biográfica e filosófica. Essas dimensões não devem ser entendidas como “partes”, em que se divide a exposição, mas como níveis de manifestação da vida-e-obra que se articulam de maneira inseparável no processo expositivo. E o mais interessante e que nos banheiros da Sala das Exposições Temporárias uma divertida e poética seleção de frases ligeiramente pornográficas de Oswald.
Aos mais sensíveis e pudicos, o museu recomenda o uso dos banheiros instalados no segundo andar no qual me fez rir muito até levei  a Loide ao banheiro masculino vazio e claro pra ler as frases.

















Dimensão Poética:

A exposição tem como ponto de partida os princípios formais que ele mesmo traçou no Manifesto da Poesia Pau-Brasil: agilidade, síntese, equilíbrio geômetra, acabamento técnico, invenção e surpresa.

Dimensão Histórico - Biográfica.

Poucos escritores têm, como Oswald, uma biografia que é também um diagrama de seu tempo. O jovem burguês viajante boêmio acompanhando in loco os movimentos da vanguarda europeia nos anos 10; o artífice do movimento modernista e agitador antropofágico, poeta e autor de narrativas experimentais na década de 20; o dilapidador de fortuna arruinado pela crise de 29, militante comunista editando O Homem do Povo, “casaca de ferro da Revolução Proletária”, escrevendo romance cíclico e teatro cáustico na década de 30 e muito mais.




quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Joaquín Torres Garcia: Geometria, Criação, Proporção

                                                  Ponte e da cidade do Porto

Ontem fiz com a  minha namorada um role cultural dentro desse roteiro também passamos na Pinacoteca na Exposição de Joaquín Torres García: Geometria, Criação, Proporção que apresenta cerca de 150 obras, entre pinturas, aquarelas, desenhos,  afrescos, colagens, coleção de livros, manuscritos, fotos e documentos, realizados entre 1913 e 1943.  O uruguaio Torres Garcia (1874-1949) é um dos mais expressivos artistas latino-americanos da  primeira metade do século passado.
Entre as obras expostas estão La Edad de Oro de la Humanidad, um dos  quatro murais que Torres García realizou no Palácio da Assembléia de Barcelona. Geometria, Criação, Proporção é New York, na qual o artista sintetiza cenas das ruas, com arranha-céus, trens elevados e cartazes de anúncios. Sin Título, no qual a simplificação da cor e a linha dão continuidade à arte construtiva, para a qual ele se dedica totalmente a partir de 1930.
O artista defendia uma arte que não imitasse a realidade, embora a natureza permanecesse como fonte de inspiração.

 Veja Algumas Obras:



Felicidade


                          A gente se dá conta tarde de que a felicidade é fácil, não? 
                                                 (Caio Fernando Abreu)


Realismo Capitalista e outras histórias ilustradas - SIGMAR POLKE


1941 / 2010 in memoriam

Ontem fui com minha namorada  ao Museu de Arte de São Paulo (Masp) para ver a  mostra “Sigmar Polke: Realismo Capitalista e outras histórias ilustradas”. Trata-se de uma exposição com as séries completas das gravuras do artista plástico alemão, criadas de 1963 e 2009, além de objetos e desenhos da série “Day by Day”, destaque na 13ª Bienal de Arte de SP 1975, quando Polke levou o prêmio pintura.

 Uma série completa das gravuras criadas pelo artista plástico alemão entre 1963 e 2009. Ao todo, mais de 220 gravuras e objetos cedidos pelo colecionador Axel Ciesielski fazem parte da mostra.

Considerado uma das mais significativas forças criativas da Europa no pós-Guerra, Polke nasceu em 1941 na Silésia. Em 1963 ganha visibilidade ao organizar, junto dos colegas de classe Gerhard Ritcher e Konrad Fischer (então Konrad Lueg), a performance e depois movimento Realismo Capitalista, assim batizado para satirizar o Realismo Socialista.

Nos 80, experimentou diferentes tipos de tintas, compostos químicos e solventes e em 86 leva o Leão de Ouro na Bienal de Veneza pela instalação Athanor, com uma tinta por ele desenvolvida à base de pigmentos que reagiam à luz e umidade do local, mudando de cor. O prêmio consolidou seu nome como um dos mais importantes da arte alemã, ao lado de Richter, Joseph Beuys, Georg Baselitz e Anselm Kiefer.

A Imagem que eu mais gostei:

Saia do Laboratório e entre no Escritório (1980-1991), impressão em off-set sobre papel transparente, obra de Sigmar Polke exposta no Masp que demonstra a radicalidade da intervenção do artista sobre o papel



terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Pensar


Fico me perdendo em páginas de diários, em pensamentos e temores, e o tempo vai passando. Covardia é uma palavra feia. Receio de enfrentar a vida cara a cara. Descobri que não me busco ou, se me busco, é sem vontade nenhuma de me achar, mudando o caminho cada vez que percebo uma luz. Fuga, o tempo todo fuga, intercalada por períodos de reconhecimento.  (Caio Fernando Abreu)

Cavalo de Guerra


O filme Cavalo de Guerra é baseado no livro War Horse, de Michael Morpurgo, que foi lançado em 1982. O qual já esta na minha Lista para ser lido. O longa tem a direção de ninguém menos que Steven Spielberg, um dos maiores diretores de cinema. Os admiradores de filmes de guerra vão gostar, vale a pena ir conferir nas telonas. É uma história belíssima e emocionante. Confira a sinopse e o trailer.
Sinopse de Cavalo de Guerra:

O filme Cavalo de Guerra começa mostrando a inevitável amizade entre o jovem Albert, e seu belo cavalo Joey, já que Albert treina e domestica o cavalo. Em um determinado tempo, os dois são obrigados a se separar, então neste ponto o filme acompanha toda a jornada do cavalo, e todos os seus passos pela guerra. Joey muda e inspira a vida de todos que passam por seu caminho, que são um fazendeiro francês com sua neta, os soldados alemães e a cavalaria britânica. Tudo isso antes que aconteça o clímax do filme, no coração da Terra de Ninguém.



segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

É somente música, mas faz um bem danado

JOÃO MARCOS COELHO , ESPECIAL PARA O ESTADO 

 O Estado de S.Paulo

A primeira vez que o coelho Ismael - único entre 52 irmãos escolhido pelo pai Maltese para lhe passar todos os seus conhecimentos - ouviu os sons que vinham da sala, ficou "preso de encantamento". "Era um som surpreendente, que nunca antes tinha ouvido e que, entre todos os sons que eu conhecia, só me fazia lembrar um pouco o som do ribeiro correndo entre as pedras e as raízes das plantas. Mas este era um som mais harmonioso e profundo, que ora parecia alegre ora parecia triste."

Ao registrar o encontro entre o coelho e o adoentado Frédéric Chopin tocando um de seus noturnos ao piano, que renderia uma insólita amizade graças à habilidade do animalzinho de entender a linguagem dos humanos, o escritor português Miguel Sousa Tavares define de modo simples a essência da música. Pois sua maior qualidade é o fato de ser imediatamente acessível. O livro Ismael e Chopin visa ao público infanto-juvenil, mas é certeiro em suas reflexões sobre a natureza da música. Até parece que Tavares leu uma frase surpreendente do poeta italiano Giacomo Leopardi. Em plenos anos 1820, Leopardi escreveu que "o princípio da música e de seus efeitos não pertence à teoria do belo, mas é assunto de cheiros, gostos e cores, e assim por diante... por isso não surpreende que selvagens e até animais tenham prazer quando ouvem música". Entendê-la no sentido mais básico, raciocina Charles Rosen em seu livro Music and Sentiment, significa "simplesmente gostar dela quando você a ouve". A identificação que faz Leopardi da arte da música com a de cozinhar e a alquimia dos perfumes, completa Rosen, "implica que a música atende aos mais básicos e menos intelectuais instintos humanos".

Numa de suas excursões pelo mundo à sua volta em busca de conhecimento, o coelho Ismael conversa com a árvore Eternidade, que lhe pergunta: "Devem ser coisas bem diferentes, a música e o mar? É como se comparasses a lua com o vento. De qual gostas mais?". O coelho é sincero: "Mais do que tudo, gosto da música. Mas não me pergunte por quê!". O problema e a magia da música existem porque ela tem uma gramática e sintaxe riquíssimas e ao mesmo tempo vocabulário ambíguo. Por isso mesmo, diz Rosen, "quando quer chegar perto da sutileza e ressonância emocional da música, a linguagem recorre aos métodos poéticos".

Tavares diz no pósfácio que o livro nasceu num fim de tarde quando, no terraço de uma casa no campo, ouvia o filho pianista. "O som chegava cá fora por uma janela aberta quando vi um coelho bravo que tinha correndo e subitamente parou ao ouvir a música e ali ficou, estático, a ouvi-la."

A segunda reflexão chave do livro é daquelas essenciais, que divide há séculos os estudiosos. Para que serve a música?, pergunta Ismael ao pai, logo depois de ouvir Chopin ao piano pela primeira vez. A resposta de Maltese é antológica. "Pois isso é que é fantástico: se pensarmos bem, a música não serve para nada. De todos os sons da natureza, é o único que não se sabe para que serve. (...) Não serve para nada: só para, ouvir. E o que é extraordinário é que tenham sido os homens a inventar a música."

A música, sobretudo a instrumental, não serve para nada e ao mesmo tempo serve para tudo. Por isso Igor Stravinski afirmou que a música é apenas som em movimento, não quer dizer nada além de sons. Mas provoca sentimentos, sensações.

Beethoven, sabe-se, instaurou o primado da música instrumental de modo contundente. Um episódio pouco conhecido, ressaltado pelo pesquisador Maynard Solomon, dá conta de que ele demorou semanas para visitar, em 1804, uma de suas raras alunas de piano, Dorothea von Ertmann. Ela perdera seu filho de 3 anos e passou semanas com o choro travado. Beethoven entrou e anunciou: "Vamos nos falar agora por meio de sons". Tocou por mais de uma hora. Segundo uma testemunha, a música fez Dorothea finalmente conseguir chorar. Retirou-se em silêncio, enquanto ela soluçava. Afinal, a música é muito mais precisa neste universo do que a linguagem, porque mexe com nossos instintos.

A música nasceu antes do homo sapiens e sobreviverá a ele. Ao despedir-se do coelho Ismael entregando-lhe uma partitura de um de seus noturnos, Chopin lhe diz: "Quero que tu a guardes e um dia os filhos dos filhos dos teus filhos hão-de entregá-la a alguém que finalmente há-de ouvir e dizer ao mundo que encontraram uma nova música de Chopin (...) nesse dia, tu e eu estaremos mortos há muito tempo. Mas a música, não".

O Homem que Venceu Auschwitz



Sinopse: O livro conta a história real um soldado britânico que se infiltrou no campo de concentração de Auschwitz. No verão de 1944, Denis Avey trabalhava num campo de prisioneiros de guerra próximo ao campo de concentração de Buna-Monowitz, conhecido como Auschwitz III. Já tinha ouvido falar da brutalidade no tratamento dos prisioneiros de lá e estava determinado a testemunhar o que podia. Traçou, então, um plano para trocar de lugar com um prisioneiro judeu e infiltrou-se no campo de concentração, onde foi a testemunha ocular da barbárie que lá ocorria. Durante muitas décadas, Avey não se sentiu preparado para relatar a experiência do passado, porém, aos 91 anos, procura revelar neste livro tudo o que presenciou.

Tudo começou no verão de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial. Denis Avey um soldado britânico trabalhava em um campo de concentração como prisioneiro em AUSCHWITZ III. E queria saber como eram tratados os Judeus. Denis Avey queria ter a experiência de conhecer como era o campo dos Judeus, para isso  Avey  elaborou um plano na qual ele iria entrar na parte dos Judeus.

Avey por duas vezes trocou de lugar com um prisioneiro judeu, Hans. Raspou a cabeça e fascinado entrou no campo de concentração, reproduziu com todos os detalhes a expressão de fraqueza, a maneira de andar, o sotaque dos prisioneiros. Com muito medo conseguiu sobreviver  a essa experiência. Porém por décadas não conseguia se expressar tudo o que presenciou nos campos de concentração.  Mas aos 93 anos  Avey decidiu relatar toda suas experiências com a ajuda do jornalista Rob Broomby. Todos seus medos, as dores, e os laços de amizade foram descritos de uma bela forma.

O livro e extremamente emocionante e admirável constituído de um relato de um valente soldado, um homem que arriscou sua própria vida para mostrar ao mundo uma das mais assustadoras  e cruciante da  História.

Avey anseia que seu livro relembre que o fascismo e o genocídio nunca desapareceram, como ele mesmo disse. “ Isso poderia acontecer hoje” E aceita que isso pode acontecer em qualquer lugar que se admitem que o verniz da civilização venha a se exterminar ou que seja arrancado pela má vontade e pelos impulsos devastadores.

E analisa com muita emoção: “ Mas por que fiz isso? Por que, Espontaneamente  abri mão da condição de prisioneiro de Guerra britânico amparado para entrar em um local em que a perspectiva e a humanidade tinham sido eliminadas? Quando Olhava o  rosto dos prisioneiros judeus, com as maças protuberantes e os olhos afundados era como se não houvesse nada ali. Todos os sentimentos e emoções haviam sido cauterizados dentro dele. Eu tinha de ver com meus olhos o que estava acontecendo. Eu tinha de entrar lá. Todos nós tínhamos ouvido falar. As palavras  “Conjectura” e “especulação” jamais fizeram parte do meu vocabulário. Posso não ter sabido qual campo era qual, mas precisava ver o que transforma seres humanos naquelas sombras”.

Eu me emocionei muito e para os fãs de 2ª Guerra Mundial ou para quem quer saber com mais autenticidade como funcionavam os campos de Concentração eu Mais que RECOMENDO!

Tudo Muda...



Quando sem notar um dia você desperta e percebe de que não é mais o mesmo.

Os anos não lhe deram apenas linhas de expressão, kilos a mais..., o que alterou vai muito além da aparência física. O fato e que  você não percebe isso em um simples despertar de olhos, você vai se conhecendo, ou melhor, se reconhecendo, aos poucos, a cada gesto que você toma e se lembra de que anos atrás você não agiria daquela ou de outra forma.

E como é esplêndido esse sentimento, de se sentir mais maduro, mais forte, dono de si e sem aqueles temores todos, sem se preocupar tanto em agradar sempre.

A puerilidade infelizmente insisti  um pouco, ainda crê que todos a amam, a admiram e que todas as amizades são leais, mas também ser incrédulo demais talvez não lhe permitiria ser tão feliz.

É preciso sim: considerar, confiar, se entregar... E claro com toda a cautela.

E a cada trambolhão saber que levantar-se é o ato mais valente e nobre,  certifique-se disso.  Porque tudo Muda...

Saudade


"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas as vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: Quer-se absorve a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

(Clarice Lispector)

Tempo


O tempo tem uma forma maravilhosa de nos mostrar o que realmente importa.
(Caio Fernando Abreu )

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A Revolução dos Bichos

Sinopse: A Revolução dos Bichos, escrito na época da Segunda Guerra Mundial. O livro ataca o modelo soviético sob a ditadura de Stalin, fazendo um retrato muito fiel através de bichos do que ocorre de fato na tentativa de implantar o comunismo. Aqueles que renunciam à liberdade em troca de promessas de segurança acabam sem nenhuma delas. A utopia conquista através das emoções, mas na hora dos resultados, a irracionalidade cobra um elevado preço, com juros estratosféricos.
A fábula ocorre na Granja do Solar, onde os animais eram explorados por seu dono. O velho porco Major fez discurso  sobre um sonho de capturar  todos os animais. O homem seria um inimigo, o único inimigo, e retirando-o de cena, a culpa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desapareceria para sempre. “Basta que nos livremos do Homem para que o produto de nosso trabalho seja só nosso”, disse o velho porco. Num piscar de olhos, todos seriam livres e ricos. O Juramento do paraíso sem esforço. Nenhum animal iria jamais oprimir outros animais. Todos seriam como irmãos. Todos semelhantes. O mundo dos insetos gregários, sonhado por todos aqueles que repulsam o sucesso alheio, e, portanto, as diferenças entre os homens.

Logo uma canção foi criada para passar a mensagem igualitária do sonho dos animais da granja. Todos ecoavam aqueles versos com profunda alegria. O futuro seria magnífico. A riqueza, incomensurável. Para tanto, bastava lutar, mesmo que valesse a própria vida. Sansão, o forte cavalo, era o discípulo mais leal. Não sabia pensar por conta própria,concordando sempre com os porcos instrutores, por sua reconhecida sabedoria. Passava adiante o que era ensinado, através da repetição inconsciente, como vemos de fato nos chavões e vários  slogans repetidos pelos comunistas. A figura de Sansão é a imagem perfeito do idiota aproveitável, que bem intencionado, acaba servindo como massa de exercícios dos oportunistas de plantão.

Os animais se indignaram, e finalmente conquistaram o poder da granja. Nada seria tocado na casa, que iria atravessar uma  revolução. Nenhum animal poderia  jamais morar lá. Foram criados sete mandamentos, entre eles: qualquer ser que andasse  sobre duas pernas seria inimigo; nenhum animal podia   dormi em cama; nenhum animal matará outro animal; e o mais essencial, que todos os animais seriam iguais. Com o tempo, todos estes mandamentos foram sendo devidamente menosprezado pelos novos donos do poder, que os modificavam sem nenhum pudor.

O leite das vacas, por exemplo, sumiu. Com o tempo, o mistério foi elucidado: era misturado à comida dos porcos. Mas a conversa era convincente: “Camaradas, não imaginais, suponho, que nós, os porcos, fazemos isso por espírito de egoísmo e privilégio”. Não, claro. Eles eram os inteligentes, e a organização da granja dependia totalmente  deles. O bem-estar geral era o único alvo dos porcos. “É por vossa causa que bebemos aquele leite e comemos aquelas maçãs”. E como não poderia faltar no inconfidente  discurso abnegado, usado para domesticar os inocentes, há que existir um bode expiatório, um adversário externo, ainda que imaginário, que justifique as injúrias domésticos. Logo, se os porcos fracassassem  nessa nobre missão, o antigo senhor regreseria  ao poder, o assustador homem. E isso ninguém aspirava. Portanto, tudo que os sábios porcos falavam e faziam deveria ser autêntico. Tudo pelo próprio bem da Granja.        

Durante uma guerra com agressores humanos, os porcos deixavam claro que não era para ter nada de “sentimentalismo”. Guerra é guerra, e “humano bom é humano morto”. George Orwell ataca com ardor a figura de Stalin, mas curiosamente poupa Lênin, que não é identificado facilmente na obra.

Porém, algumas enunciações do líder da revolução bolchevique demonstram que esta mentalidade violenta estava sempre nele. Lênin disse: “Enquanto não aplicarmos o terror sobre os especuladores - uma bala na cabeça, imediatamente - não chegaremos a lugar algum!”. Seu alvo era uma guerra civil, e ele deixava claro que este era o caminho que deveriam obter. Suas palavras eram francas: “É chagada a hora de levarmos adiante uma batalha cruel e sem perdão contra esses pequenos proprietários, esses camponeses abastados”. Na verdade, não eram tão abonados assim, os pobres kulaks. Mas eram os alvos precisos para confirmar  a guerra civil que os bolcheviques cobiçavam, para depois tomar o poder completo. Dito e feito.

O Stalin do livro é Napoleão, um porco astuto que cria em segredo uns cachorros assustadores. Quando chegou  a hora de assumir o poder absoluto, Bola-de-Neve vira vítima dos cães adestrados de Napoleão, para o pavor de todos os animais que olhavam a cena. Bola-de-Neve seria o Trotski no livro, ludibriado pela revolução, mas depois enganado. A história é totalmente reescrita por Napoleão, que transmuda Bola-de-Neve num espião, que desde o princípio da revolução trabalhava para o inimigo. As regras mudam completamente, as votações terminam, e as decisões passam a ser tomadas por uma comissão de porcos, dirigidas  por Napoleão. Isso tudo é passado aos animais como uma grande imolação de Napoleão, tendo que levar o fardo da responsabilidade, em prol do bem-geral. Era isso ou a volta do homem mau. Esse “alegação” era fatal.

Começa então  um verdadeiro culto de personalidade, como habituava  ocorrer em todos os países socialistas. Napoleão começa a dormir na cama, desprezando um dos mandamentos da revolução, que passa a contar com um anexo: que diz que nenhum animal deve dormir em cama com lençóis. O mandamento de que nenhum animal mataria outro foi trocado, após uma chacina de alguns divergentes do regime, para outro onde nenhum animal deveria matar outro sem razão. Ora, não foi difícil, com tanta autoridade, achar motivos para esclarecer o massacre de Napoleão. A miséria desolou  sobre a granja, mas os porcos comiam cada vez melhor. O cavalo Sansão trabalhava cada vez mais, convicto de que Napoleão estava sempre correto. Acabou doente de tanta fática, e foi levado para um abatedouro, sem dó alguma por parte do “grande líder”.

Os sete mandamentos concedia lugar apenas  para um: “Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros”. Os porcos adjuntos  a Napoleão passaram a agenciar com os homens de outras granjas vizinhas, um tanto  condenado na revolução. Passaram a beber álcool, ainda condenado, e aprenderam a andar em duas patas. No fim, era completamente imperceptível  quem era porco e quem era homem. Eis o destino fatal dos igualitários revolucionários. Estabelecem  um regime tão tirano ou mais que o passado, tudo em nome da granja da igualdade.

 Comentários: 

De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética.
Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram A revolução dos bichos a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto.
Depois das profundas transformações políticas que mudaram a fisionomia do planeta nas últimas décadas, a pequena obra-prima de Orwell pode ser vista sem o viés ideológico reducionista. Mais de sessenta anos depois de escrita, ela mantém o viço e o brilho de uma alegoria perene sobre as fraquezas humanas que levam à corrosão dos grandes projetos de revolução política. É irônico que o escritor, para fazer esse retrato cruel da humanidade, tenha recorrido aos animais como personagens. De certo modo, a inteligência política que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens.
Escrito  com perfeito domínio da narrativa, atenção às minúcias e extraordinária capacidade de criação de personagens e situações, A revolução dos bichos combina de maneira feliz de duas ricas tradições literárias: a das fábulas morais, que remontam a Esopo, e a da sátira política, que teve talvez em Jonathan Swift seu representante máximo."
 Eu Recomendo!!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Abraçar


Sou apaixonado por abraços. Não resisto a segurança de abraços fortes e sinceros. ( Caio Fernando Abreu)

A Guerra dos Tronos



A Guerra dos Tronos,  primeiro livro de uma série de (teoricamente) sete, é aquele tipo de leitura que me prendeu o fôlego da primeira página até a última e olha que são APENAS 562. Um livro que pode ser lido em um mês de férias e claro, mas o prazer de degustá-lo, ler cada detalhe, entender  os milhares de personagens e explorar cada parte do mapa do mundo, faz com que a leitura demore pelo simples prazer da demora. O autor George R.R. Martin leva o leitor para dentro de seu mundo com ricos detalhes, em relatos que te deixam com água na boca e entusiasmo.  A história explora uma era de declínio, quando os elementos esplêndidos que uma vez habitavam o mundo se perderam e tornaram tudo mais sombrio. A graça e o encanto deram lugar as guerras e tramóia impetradas pelos humanos. Seres místicos como os dragões estão eliminados e são citados apenas como aquelas lendas em que ninguém acredita. A magia, se é que ela existe de verdade, é receado e, para muitos povos, diferido. Isto sem alegar os Andarilhos Brancos . Tudo em A Guerra dos Tronos retrata uma realidade crua e tristonha, que trabalha seus personagens com uma certa proximidade do mundo real, embora se passe num mundo fictício. Ao longo do caminho, no entanto, viajamos por uma estrada perigosa e intrigante, com muitas reviravoltas e caminhos imediatos. George R.R. Martin é, categórico, um dos autores mais extraordinário. Ele te pega pela mão e te leva por onde ele deseja te guiar, mas é improvável saber em que terreno você está andando e qual vai ser o seu real rumo. De repente, você já está com as calças na mão, fascinado com os resultados da história, mas admirado com a forma como a trama é levada. Com tudo, os personagens são apaixonantes e bem  apresentados, desenvolvidos, enlevados e debilitados e, com o desfile de constante de suas qualidades e defeitos, somos pegos curtindo seus feitos, ao mesmo tempo em que não podemos sequer nos dar ao prazer de nos apegarmos demais a eles. Esta revolta de interesses e emoções evidências  ainda mais da obra-prima que é A Guerra dos Tronos. Somente  esteja certo de que você não vai conseguir parar de ler antes de terminar e, quando o fizer, terá um desejo constante pelo próximo livro.

Na história, somos postos aos Sete Reinos do continente de Westeros, localizado num mundo de conceitos medievais, onde as estações não são determinadas. Extensos anos de um verão quente são comumente prosseguidos por um inverno igualmente intensivo; quanto mais tempo de verão, mais tempo de inverno… e o último verão já dura dez anos. Agora, “O inverno está chegando”, como prenuncia a Casa Stark, os grandes regentes das terras do Norte, Winterfell. Os membros da família pronunciam  este lema com pesar, conscientes de que tempos difíceis virão. Além do frio abrasador do inverno, Westeros ainda encara  a temperatura gélida comum à região norte do continente, um lugar onde árvores têm rostos e as crianças andam ao lado de lobos gigantes que estão perpetuados aos seus destinos. Winterfell está localizado ao sul de uma imensa Muralha que separa os Sete Reinos de florestas selvagens e tristonhas. Para lá deste muro de gelo, bárbaros perigosos espreitam e forças sobrenaturais desconhecidas, tão antigas quanto o próprio mundo, estão se reerguendo, transportando uma ameaça maior do que qualquer um é capaz de supor. Os Outros, como são chamados, são aparentemente mortos-vivos ligados ao frio, com peles esbranquiçadas e olhos azuis brilhantes. São seres míticos na trama e que, como os mitos que são, aparecem apenas raramente e de forma coibida, o que evidencia ainda mais a natureza tachar das criaturas. Embora o prefácio  do livro seja centrado no aparecimento destes seres, eles não são muito explorados ainda. O autor parece querer deixá-los enigmáticos para surgirem com mais força quando os elementos mais sobrenaturais ganharem força, o que já deve intercorrer a partir do segundo livro: A Fúria dos Reis.

Na primeira parte da grande saga, o foco são os jogos de poder entre as Casas que governam (ou governaram) o continente. A trama começa realmente com a ida do Rei Robert Baratheon para Winterfell. A antiga Mão do Rei (leia-se “braço direito”), Jon Arryn, morreu e ele vêm até o Norte para convocar  um velho amigo, Lorde Eddard Stark, para regressar a nova Mão. O Lorde Stark não gosta dessa idealização  à princípio, mas descobre que o rei pode estar em perigo e, como um homem honesto e um amigo fiel, decide aceitar a carga. A partir deste ponto, toda sua família é envolta, direta ou indiretamente, no jogo dos tronos, uma  assustadora rede de intrigas e maquinações  na qual apenas os astutos podem resistir. O grande problema para Ned Stark, como também é célebre  o senhor de Winterfell, o Rei Robert não é mais o velho amigo com quem ele lutou junto para capturar  o trono do reino há quinzes anos. Ele se tornou um potentado negligente que, mesmo cercado por segredos e complôs, não está preocupado com seu governo ou com seus desejos da perigosa família de sua esposa, a Rainha Cersei Lannister.

O livro tem com uma narrativa para lá de fascinante, mostrando alternadamente os pontos de vista de personagens significativos para o desdobrar da história como capítulos, ao invés de usar a convencional divisão numerada. Uma narrativa audaciosa, devo admitir, mas venerável e envolvente. Desta forma, os personagens ganham mais âmago  e tornam-se mais tridimensionais para o leitor. Não existe um protagonista exato mesmo que um leitor se afeiçoe  a um ou outro como principal, logo ele nota-se que todos são peças essenciais no jogo. Alguns são mais maduros, outros menos, mas, partindo do enunciado de que existem ainda muitos livros, é certo que personagens menos conhecidos ganharam destaque no futuro. Assim, acompanhamos os oito pontos de vistas de: Eddard Stark, o supracitado senhor de Winterfell; Catelyn Stark, a audaciosa esposa de Eddard e uma das personagens que mais progridem durante a trama; Jon Snow, o bastardo da família Stark, visto como um pária, mas apreciado  por seu pai, irmãos e amigos.  Arya Stark, a filha mais nova, que possui um espírito indomável  e corajoso e que nunca aceita as convenções que tentam lhe infligir.  Sansa Stark, a filha mais velha que idealiza  casar-se  com o filho do rei e ser rainha. Bran Stark, o filho mais novo de Ned, que tem um ponto de vista inusitado, mas pouco maduro.  Tyrion Lannister, o anão, um homem que, apesar da estatura baixa, possui inteligência  e agudeza  gigantescas e nunca deixa claro de que lado realmente esta. Daenerys Targaryen, uma menina doce e ingênua que é a herdeira do rei cujo trono foi intruso  por Robert e supostamente descendente dos dragões, mas que se torna forte e determinada à medida que desvenda  sua herança em meio aos brutais dothrakis. Daenerys é, de longe, a personagem que tem o melhor final no livro e a que deixa mais esperada para as próximas histórias.

George R.R. Martin conseguiu criar sua história usando a temática do devaneio medieval de uma forma singular e, sobretudo, contemporânea. Martin é um escritor dos tempos modernos, que cresceu  trabalhando no cinema e na TV e, por isso, lançou um olhar diferente sobre um assunto já abastado por estereótipos. As Crônicas de Gelo e Fogo desconstrói muitos protótipos conceituais deste tipo de narrativa com muita habilidade. Muito se fala sobre a semelhança com O Senhor dos Anéis (1954) e, de fato, é improvável  não tentar comparar as duas obras. São histórias semelhantes na medida em que acontecem em mundos medievais fantásticos, repletos de seres estranhos, superstições e magias antigas. Porém, as semelhanças param por aí. Enquanto J.R.R. Tolkien apresenta uma escrita mais poética e heróica, George R.R. Martin é mais escabroso e desprovido de pudores ou convenções na condução de sua trama. Martin descreve lutas, morte, sexo, incesto, traições sem qualquer sobriedade, com uma liberdade de expressão mais adaptada com o mundo contemporâneo. As Crônicas de Gelo e Fogo e O Senhor dos Anéis são duas obras boas mas com histórias diferentes, escritas com princípios diferentes e em tempos diferentes. No entanto, é óbvio que Martin puxou influências de Tolkien. Na verdade, uma influência ainda mais ajustada seria com o realismo de As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell.

A Guerra dos Tronos é apenas uma pequena porção da grande saga que é As Crônicas de Gelo e Fogo. O livro vicia e, apesar da quantidade de páginas e da fonte bem pequena, traz uma leitura agradável e que vai prender você do começo ao fim. Você vai  ficar tão curioso por saber o que vem a seguir que, quando se dá conta, já está na última página angustiado  por mais. A Guerra dos Tronos é leitura boa não só para os fãs da fantasia, mas para qualquer amante da literatura. Recomendado!!