sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A Revolução dos Bichos

Sinopse: A Revolução dos Bichos, escrito na época da Segunda Guerra Mundial. O livro ataca o modelo soviético sob a ditadura de Stalin, fazendo um retrato muito fiel através de bichos do que ocorre de fato na tentativa de implantar o comunismo. Aqueles que renunciam à liberdade em troca de promessas de segurança acabam sem nenhuma delas. A utopia conquista através das emoções, mas na hora dos resultados, a irracionalidade cobra um elevado preço, com juros estratosféricos.
A fábula ocorre na Granja do Solar, onde os animais eram explorados por seu dono. O velho porco Major fez discurso  sobre um sonho de capturar  todos os animais. O homem seria um inimigo, o único inimigo, e retirando-o de cena, a culpa principal da fome e da sobrecarga de trabalho desapareceria para sempre. “Basta que nos livremos do Homem para que o produto de nosso trabalho seja só nosso”, disse o velho porco. Num piscar de olhos, todos seriam livres e ricos. O Juramento do paraíso sem esforço. Nenhum animal iria jamais oprimir outros animais. Todos seriam como irmãos. Todos semelhantes. O mundo dos insetos gregários, sonhado por todos aqueles que repulsam o sucesso alheio, e, portanto, as diferenças entre os homens.

Logo uma canção foi criada para passar a mensagem igualitária do sonho dos animais da granja. Todos ecoavam aqueles versos com profunda alegria. O futuro seria magnífico. A riqueza, incomensurável. Para tanto, bastava lutar, mesmo que valesse a própria vida. Sansão, o forte cavalo, era o discípulo mais leal. Não sabia pensar por conta própria,concordando sempre com os porcos instrutores, por sua reconhecida sabedoria. Passava adiante o que era ensinado, através da repetição inconsciente, como vemos de fato nos chavões e vários  slogans repetidos pelos comunistas. A figura de Sansão é a imagem perfeito do idiota aproveitável, que bem intencionado, acaba servindo como massa de exercícios dos oportunistas de plantão.

Os animais se indignaram, e finalmente conquistaram o poder da granja. Nada seria tocado na casa, que iria atravessar uma  revolução. Nenhum animal poderia  jamais morar lá. Foram criados sete mandamentos, entre eles: qualquer ser que andasse  sobre duas pernas seria inimigo; nenhum animal podia   dormi em cama; nenhum animal matará outro animal; e o mais essencial, que todos os animais seriam iguais. Com o tempo, todos estes mandamentos foram sendo devidamente menosprezado pelos novos donos do poder, que os modificavam sem nenhum pudor.

O leite das vacas, por exemplo, sumiu. Com o tempo, o mistério foi elucidado: era misturado à comida dos porcos. Mas a conversa era convincente: “Camaradas, não imaginais, suponho, que nós, os porcos, fazemos isso por espírito de egoísmo e privilégio”. Não, claro. Eles eram os inteligentes, e a organização da granja dependia totalmente  deles. O bem-estar geral era o único alvo dos porcos. “É por vossa causa que bebemos aquele leite e comemos aquelas maçãs”. E como não poderia faltar no inconfidente  discurso abnegado, usado para domesticar os inocentes, há que existir um bode expiatório, um adversário externo, ainda que imaginário, que justifique as injúrias domésticos. Logo, se os porcos fracassassem  nessa nobre missão, o antigo senhor regreseria  ao poder, o assustador homem. E isso ninguém aspirava. Portanto, tudo que os sábios porcos falavam e faziam deveria ser autêntico. Tudo pelo próprio bem da Granja.        

Durante uma guerra com agressores humanos, os porcos deixavam claro que não era para ter nada de “sentimentalismo”. Guerra é guerra, e “humano bom é humano morto”. George Orwell ataca com ardor a figura de Stalin, mas curiosamente poupa Lênin, que não é identificado facilmente na obra.

Porém, algumas enunciações do líder da revolução bolchevique demonstram que esta mentalidade violenta estava sempre nele. Lênin disse: “Enquanto não aplicarmos o terror sobre os especuladores - uma bala na cabeça, imediatamente - não chegaremos a lugar algum!”. Seu alvo era uma guerra civil, e ele deixava claro que este era o caminho que deveriam obter. Suas palavras eram francas: “É chagada a hora de levarmos adiante uma batalha cruel e sem perdão contra esses pequenos proprietários, esses camponeses abastados”. Na verdade, não eram tão abonados assim, os pobres kulaks. Mas eram os alvos precisos para confirmar  a guerra civil que os bolcheviques cobiçavam, para depois tomar o poder completo. Dito e feito.

O Stalin do livro é Napoleão, um porco astuto que cria em segredo uns cachorros assustadores. Quando chegou  a hora de assumir o poder absoluto, Bola-de-Neve vira vítima dos cães adestrados de Napoleão, para o pavor de todos os animais que olhavam a cena. Bola-de-Neve seria o Trotski no livro, ludibriado pela revolução, mas depois enganado. A história é totalmente reescrita por Napoleão, que transmuda Bola-de-Neve num espião, que desde o princípio da revolução trabalhava para o inimigo. As regras mudam completamente, as votações terminam, e as decisões passam a ser tomadas por uma comissão de porcos, dirigidas  por Napoleão. Isso tudo é passado aos animais como uma grande imolação de Napoleão, tendo que levar o fardo da responsabilidade, em prol do bem-geral. Era isso ou a volta do homem mau. Esse “alegação” era fatal.

Começa então  um verdadeiro culto de personalidade, como habituava  ocorrer em todos os países socialistas. Napoleão começa a dormir na cama, desprezando um dos mandamentos da revolução, que passa a contar com um anexo: que diz que nenhum animal deve dormir em cama com lençóis. O mandamento de que nenhum animal mataria outro foi trocado, após uma chacina de alguns divergentes do regime, para outro onde nenhum animal deveria matar outro sem razão. Ora, não foi difícil, com tanta autoridade, achar motivos para esclarecer o massacre de Napoleão. A miséria desolou  sobre a granja, mas os porcos comiam cada vez melhor. O cavalo Sansão trabalhava cada vez mais, convicto de que Napoleão estava sempre correto. Acabou doente de tanta fática, e foi levado para um abatedouro, sem dó alguma por parte do “grande líder”.

Os sete mandamentos concedia lugar apenas  para um: “Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros”. Os porcos adjuntos  a Napoleão passaram a agenciar com os homens de outras granjas vizinhas, um tanto  condenado na revolução. Passaram a beber álcool, ainda condenado, e aprenderam a andar em duas patas. No fim, era completamente imperceptível  quem era porco e quem era homem. Eis o destino fatal dos igualitários revolucionários. Estabelecem  um regime tão tirano ou mais que o passado, tudo em nome da granja da igualdade.

 Comentários: 

De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética.
Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram A revolução dos bichos a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto.
Depois das profundas transformações políticas que mudaram a fisionomia do planeta nas últimas décadas, a pequena obra-prima de Orwell pode ser vista sem o viés ideológico reducionista. Mais de sessenta anos depois de escrita, ela mantém o viço e o brilho de uma alegoria perene sobre as fraquezas humanas que levam à corrosão dos grandes projetos de revolução política. É irônico que o escritor, para fazer esse retrato cruel da humanidade, tenha recorrido aos animais como personagens. De certo modo, a inteligência política que humaniza seus bichos é a mesma que animaliza os homens.
Escrito  com perfeito domínio da narrativa, atenção às minúcias e extraordinária capacidade de criação de personagens e situações, A revolução dos bichos combina de maneira feliz de duas ricas tradições literárias: a das fábulas morais, que remontam a Esopo, e a da sátira política, que teve talvez em Jonathan Swift seu representante máximo."
 Eu Recomendo!!

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