quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Olavo Bilac


Bendito aquele que é forte, 
E desconhece o rancor, 
E, em vez de servir a morte, 
Ama a Vida, e serve o Amor!” 
(“O Rio”, Olavo Bilac)
 
Fernando Jorge, escritor e jornalista, nos maravilha com sua minuciosa e exaustiva pesquisa sobre o poeta Olavo Bilac. Num livro ricamente ilustrado e com detalhes precisos da vida cotidiana do poeta, apresenta-nos um delicioso relato da vida cultural brasileira no final do século XVIII e início do século XIX.
OLAVO Brás Martins dos Guimarães BILAC, nasceu em 16 de dezembro de 1865, na cidade do Rio de Janeiro (RJ). Seu pai, Dr. Brás, médico, defendia o pátria na então Guerra do Paraguai, iniciada por Solano Lopez, que aspirava tornar-se o “Imperador do Prata”. Foi derrotado pela “Tríplice Aliança”, formada pelo Brasil, Argentina e Uruguai, que praticamente reduziu à pó o país vizinho. 
Contrário a vontade do pai, Olavo pretendia tornar-se advogado, seguir carreira diplomática e correr o mundo. Dr. Brás, no entanto, era impetuoso. Tendo Bilac terminado com antecedência os estudos preparatórios, conseguiu junto a D. Pedro II a expedição de um decreto (n. 2.956, de 03.08.1880), autorizando o governo a matricular o poeta na faculdade de medicina do Rio de Janeiro, dispensando-o do requisito da “idade legal”. 
Olavo Bilac, porém, a cada dia se descontentava mais do curso de medicina, preferia as lides literárias e passou a ser freqüentador assíduo da Rua do Ouvidor, de seus botequins e sua boemia. Certa madrugada, na companhia do amigo Paula Nei, ao chegar em casa é expulso por seu pai, que o vê como um vagabundo, rodeado de más companhias. Daí por diante não se falam mais, sendo que Bilac passa a manter contatos esporádicos apenas com sua mãe, D. Delfina. 
Por sorte seu genitor estava enganado e Bilac não se deixou vencer pelo tratamento que lhe foi dispensado. Fernando Jorge, nesse particular, é primoroso em apresentar ao leitor a exata situação política e social da época. Bilac não poderia ter mais sorte e melhor companhia. Viveu o período da abolição da escravidão, onde atuou na companhia de José do Patrocínio e Joaquim Nabuco. Acompanhou a transição da monarquia para a república e já em 1886 se mostrava um dos expoentes da nova geração literária, acompanhado de Raul Pompéia, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira. Foi apresentado  a Machado de Assis, considerado “o primeiro dos nossos prosadores”. Tornou-se amigo de Aluízio de Azevedo e conheceu em Paris o respeitado escritor português Eça de Queiroz. Era colega de Afonso Arinos, Humberto de Campos, Afrânio Peixoto, Martins Fontes e João do Rio, sendo contemporâneo de Rui Barbosa, Cruz e Sousa, Benjamin Constant, Quintino Bocaiúva e Gilberto Amado. 
Como se percebe, o meio em que Bilac viveu era propício para o crescimento intelectual e literário, estando ladeado o poeta por grandes nomes da história nacional. 
A poesia de Bilac se tornava cada vez mais respeitada e admirada pelos seus leitores. O soneto “Ouvir Estrelas” logo se popularizou e o amor era um tema constante em seus versos. Apaixona-se, então, por Amélia de Oliveira, irmã de seu preclaro amigo Alberto. Mesmo enamorados, Bilac resolve partir para São Paulo, pretendendo graduar-se em direito, visto que há tempos havia abdicado do curso de medicina. No entanto, sem colar grau, retorna à corte em 1888 com o propósito de consumar seu noivado com Amélia (a saudade da vida boêmia e de seus amigos também era grande). Entrementes, seu intuito não logra êxito, permanecendo Bilac no celibato até o final de seus dias. O amor, no entanto, mantêm-se como tema recorrente em sua poesia, conforme podemos verificar em “Beijo Eterno”:
“Quero um beijo sem fim, 
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo! 
Ferve-me o sangue: acalma-o com o teu beijo! 
Beija-me assim! 
O ouvido fecha ao rumor 
Do mundo, e beija-me, querida! 
Vive só para mim, só para minha vida, 
Só para o meu amor!”

 O livro de Fernando Jorge ainda relata a intensa participação do poeta em jornais e as diversas viagens realizadas por Olavo Bilac a Europa, em especial de sua permanência em Paris. Apresenta as dificuldades financeiras do biografado, que, contudo, não o impediam de freqüentar os cafés e confeitarias da capital fluminense, sempre na companhia de amigos como Artur Azevedo, Coelho Neto, Luis Murat, entre outros. 
Também são narrados os episódios em que Bilac esteve preso, por ordem do Marechal Floriano Peixoto, que o acusara de participar de movimentos subversivos (Bilac era simpatizando de Mal. Deodoro da Fonseca), e as rusgas que o poeta teve com o escritor Raul Pompéia, decorrentes de insultos velados na imprensa carioca.
Outro destaque que merece o livro diz respeito à personalidade do biografado, em especial o espírito galhofeiro do poeta, de um humor mordaz e espirituoso. O escritor de “Via-Láctea” tinha uma memória fantástica, sabia de cor seus versos e de muitos outros poetas da época. Gostava de Victor Hugo, Maupassant, Flaubert, Shakespeare e Dante, para citar alguns. Adorava vinhos finos e mulheres belas, cigarros e charutos caros. Deitava-se tarde e não tinha hora para acordar, sendo estudioso das “ciências ocultas”. Conhecido como primoroso conferencista, encantava a todos com seus discursos, proferindo orações para as mais variadas platéias. Chegou, inclusive, a discursar no banquete oferecido a Santos-Dumont pela comunidade brasileira em Paris. Foi nessa época que os médicos descobriram que o poeta tinha o coração dilatado, cuja doença agravou-se e o levou a morte em 28 de dezembro de 1918, então com 53 anos.
Bilac sempre foi apaixonado pelo Brasil, autor do “Hino à Bandeira” e incentivador incansável do alistamento militar obrigatório. Seu patriotismo pode ser facilmente notado em sua obra, sendo o poema “A Pátria” uma verdadeira demonstração de amor. Quando da Nota Preliminar da Primeira Edição, datada de 29.03.1963, como que antevendo o futuro do país e de sua gente, Fernando Jorge assim vaticinou: “Nesta época absurda, que consagra o apedeuta e condena ao ostracismo os cidadãos de talento e de caráter, em que os grandes nomes do nosso país são os jogadores de futebol, em que a mocidade se mostra tão imbecilizada e sem fibra, época babilônica que endeusa o sexo e transforma a política numa transação financeira, nesses tempos dissolutos, vergonhosos, de canalhocracia, incultura e arrivismo, é sobretudo consolador evocar o vulto de Olavo Bilac, um poeta que confiou no futuro da sua terra, que consumiu os derradeiros anos de sua existência na tarefa de acender, no peito dos brasileiros, a sacrossanta labareda do civismo.”
O livro é primoroso. Abrange todo o contexto histórico da época e a importância do biografado nessa seara temporal
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